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O debate (Guel Arraes e Jorge Furtado)

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Apague a luz se for chorar (Fabiane Guimarães)

Conheci a autora pela história das formigas compradoras de livros ( https://www.folhape.com.br/cultura/formigas-invadem-kindle-e-compram-livros-sozinhas-relato-viraliza-nas/235248/ ).  Além de contar casos insólitos, Fabiane Guimarães usa suas redes sociais para a divulgação de seu romance de estreia. Depois de ler os primeiros parágrafos da obra, fiquei com uma vontade enorme de saber como terminava o enredo. Trata-se de uma história bastante cinematográfica, que facilmente poderia ser adaptada para as telas. Já do ponto de vista literário, o livro não sustenta tão bem o estilo cativante das páginas iniciais; alguns diálogos chegam a parecer reproduções de redações escolares, permeados de “ela disse”/”ele respondeu”. Não é uma leitura imperdível,mas tampouco é uma perda completa de tempo. O livro tem seus momentos (apesar de poucos).           

O morro dos ventos uivantes (Emily Brontë)

Conheci a obra por uma tradução de Rachel de Queiroz - achei um romancezinho interessante, mas sem entender o frisson que causava em tanta gente. Isso foi até perceber que o conservadorismo da escritora cearense se espraiou pelas charnecas inglesas. Publicado durante a era vitoriana, marcada pela austeridade moral, o grande feito do livro é sua transgressão. Uma das leituras possíveis é entender o Morro dos Ventos Uivantes como uma alegoria do inferno. Por que uma tradução se atreveria a tornar o diabo menos feio do que parece? Ao limar o grotesco da escrita original, a tradução de Rachel invalidou o projeto como um todo.  Dessa vez, lendo em inglês, tornou-se um dos meus livros preferidos. É um jogo infinito de espelhos distorcidos, com vidas que replicam as mesmas histórias ao longo de gerações. Penso agora que esses personagens com nomes e feições iguais talvez tenham sido a inspiração dos "Cem anos de solidão", que é outro de meus queridos. Bastaria diminuir alguns anos n

Meu pequenino (Germano Zullo / Albertine)

Livro espelhado, em que as narrativas de vida da mãe e do filho se confundem. Os laços que unem no útero expandem-se para a vida, criando necessidades iguais em quem já foi uma só carne. Delicado e potente, consegue aprofundar reflexões sobre infância e velhice – e sobre o que fazemos com o miolo da vida.

Tudo é rio (Carla Madeira)

Mais que um divisor de águas na nossa literatura contemporânea, é um divisor de opiniões: são muitos os elogios à obra, mas há quem prefira chamá-la de irresponsável. Eu fico boiando em meio ao caminho. O início do romance é o que menos me agradou, com frases de efeito forçadas e a ideia da prostituta que ama o que faz, como se não houvesse graves violências na sujeição imposta de corpos ao prazer alheio. Aos poucos, o livro melhora. Surgem personagens cativantes e a autora afina seu estilo, criando cenas de muita beleza. O problema é que, no fim das contas, trata-se de um enredo sobre perdoar o imperdoável, com passada de pano à misoginia mais brutal. 

Angola Janga (Marcelo D'Salete)

Rico documento sobre a história do Quilombo dos Palmares, o quadrinho justifica suas escolhas narrativas com base em documentos e fatos.  É uma versão bastante diferente da que conhecemos da época escolar. Alguns elementos romanceados suprem lacunas, para que os discursos sobre a resistência não venham apenas da fonte oficial - padres, governantes, bandeirantes. Apesar da relevância de uma obra desse calibre em nosso meio editorial, confesso que esperava um pouco mais. O traço e os diálogos nem sempre são bem acabados, tornando a leitura menos impactante do que deveria ser.

Incitación al nixocidio (Pablo Neruda)

Escrito pouco antes da morte de Neruda, este é um livro de protesto contra políticas genocidas e corruptas. Apesar da distância temporal e espacial, serve também como reflexo de nossos dias. Do ponto de vista literário, contudo, os poemas pouco convencem. O tom de manifesto aniquila o lirismo - não que uma poesia com ódio não seja possível, mas não é o que ocorre aqui.