Para quem, nos últimos anos, vem acompanhando a produção da literatura africana de língua portuguesa, é difícil não enxergar no colonizador branco a figura do vilão. Sem isentar-se da culpa histórica, a escritora Isabela Figueiredo nos mostra o quanto o panorama é ainda mais complexo. Filha de brancos, a autora cresceu assistindo às relações de exploração e preconceito. Emigrada para Portugal, pôde, com o distanciamento, analisar com ainda mais argúcia os laços entre ambos os países. Em seu romance "A gorda", elenca vários elementos além da gordofobia que cerca a protagonista: machismo, estereótipos, ligação com os pais, morte... Enfim, tudo o que é humano entra no romance, que conta com uma escrita bastante simples, mas repleta de trechos poéticos.