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Mostrando postagens de maio, 2022

A palavra nômade: poesia argentina dos anos 70 (org. Santiago Kovadloff)

Breve voo pela poesia argentina de uma década, o livro traz uma introdução bem argumentada para justificar o porquê da escolha pelos anos 1970 como representativos da produção poética do país. Cada escritor nos é apresentado com apenas 2 poemas, o que torna a antologia apenas um aperitivo para quem quiser conhecer mais dos autores selecionados. Alberto Szpunberg, Santiago Sylvester, Manuela Fingueret, Tamara Kamenszain, Jorge García Sabal e Jorge Ricardo Aulicino são os nomes que deixei anotados para consultar nas bibliotecas e livrarias por aí.

Risque esta palavra (Ana Martins Marques)

​Estou no bondinho das impactadas pela poesia de Ana Martins Marques. Aqui e ali escuto quem a chame de minha poeta favorita. Não tenho o que fazer, a não ser dividir o epíteto com muita gente. Talvez o relativo sucesso da autora (pensando que poesia quase nunca é best seller) seja fazer versos contemporâneos sem cair no clubismo. É poesia que também se lê pelos não iniciados, para quem desconhece tanto as sutilezas do gênero quanto os meandros da arte contemporânea. Os poemas que tratam do amor são os únicos que não me tocam muito na obra. Já os versos sobre linguagem e pequenas coisas, como uma porta ou um cigarro, são de arrebatar. A atenção dedicada ao que nos cerca (ou encarcera) é uma pauta poética linda.

Crônicas de Varanasi (Lian Tai)

Acompanho o trabalho de Lian Tai praticamente desde que comecei a me aventurar com uma mochila pelo mundo. Com inserção em diversas áreas artísticas, sua faceta de escritora de viagens e de maternidade é a que mais me fisga. Tinha uma forte lembrança afetiva dos relatos de Varanasi, publicados no Facebook enquanto Lian ainda estava na Índia. A ideia de permanecer em um lugar turístico até conhecer sua essência desprovida de maquiagem me fascinou na época. Enquanto folheava as primeiras páginas do livro, fiquei na dúvida se meu encanto passado se justificava: mas era só isso? Por que tinha gostado tanto dessas crônicas antes? Como uma boa viagem, o livro se revela aos poucos. Não dá para embarcar de primeira e querer sentar na janelinha. Caminhando com os relatos da autora pelas páginas de Varanasi, temos a surpresa do olhar estrangeiro permeado pela vivência de quem se estendeu um tanto mais, com a calma de descobrir uma cidade e pensar sobre ela. É um conjunto belíssimo de crônicas, q...

Os amantes do círculo polar (filme de 1998)

 Uma boa obra de arte costuma despertar outras referências, em um diálogo com as produções que a antecederam ou as que se inspiraram posteriormente nela. Tematizando as relações de acasos e desencontros de um casal apaixonado, o filme me lembrou demais "Medianeras" - mas com um toque mais dramático espanhol.  A narração sabe usar muito bem idas e vindas no tempo e a perspectiva de uma mesma situação por diferentes personagens. Dessa forma, a trama de acasos também se tece pela incerteza com que se conta.

O raio verde (filme de 1986)

Apesar do título se inspirar em Júlio Verne, o enredo se faz da banalidade do diálogo. Sua matéria são as conversas nos cafés, as recorrentes indecisões da protagonista, o registro de encontros com quem recém se conhece.  Há algo de repetitivo na estrutura das conversas, mas que pouco mais é que reflexo da vida. 

Onde fica a casa do meu amigo? (filme de 1987)

É o segundo filme que vejo este ano com o mesmo formatinho: uma criança bonita e com rosto enternecedor enfrentando um percurso cheio de altos e baixos para realizar uma busca que, no fim, se torna desnecessária. Ou seja: você assiste, assiste e assiste para não dar em nada (fora dar sono).

Thelma & Louise (filme de 1991)

Talvez haja algum exagero ao longo do filme - mas a sensação de alma lavada ao ver as duas protagonistas botarem fogo no parquinho em situações machistas é impagável. Boa trilha sonora, ótimos atores, a direção conhecida de Ridley Scott coatuam para garantir a importância das questões discutidas até hoje.  Para uma obra produzida nos anos 1990, é incrível ver como o retrato de uma forte sororidade foi bem realizado. Fora o personagem do delegado, que tenta contrabalançar a malandragem dos caracteres masculinos com uma bondade inverossímil, todo o conjunto funciona. E que final apoteótico.

Flee: nenhum lugar para chamar de lar (filme de 2021)

Imigração, refugiados, fuga de regimes autoritários - não tem como o cinema atual escapar disso, mesmo quando o tema é justamente a (tentativa de) evasão de fronteiras. Com indicações a melhor filme e melhor filme estrangeiro do Oscar deste ano, Flee é uma produção com linguagens múltiplas: da animação a cenas filmadas documentais, do afegão ao russo e ao inglês.  O mais bonito é como a costura de fragmentos é feita com retalhos imprecisos da memória. Há várias idas e vindas na narrativa para refazer afirmações, redescobrir culpas e histórias perdidas em um processo de reconstruir a identidade roubada. É no contar-se que a vida se consolida.

​The Anthropocene Reviewed: Essays on a Human-Centered Planet (John Green)

Mais de uma pessoa já passou pela minha biblioteca indignada por John Green habitar as prateleiras: mas você realmente lê isso? É para treinar o inglês? Não, é para a vida. Gosto do Green romancista, mas é a sua veia de filósofo das pequenas coisas que me arrebata. Este texto é um exemplo (não consigo terminar de ver sem sentir o olhar marejado): https://youtu.be/ESyJop31cmY É só ativar a legenda do vídeo ;) "Compartilhar algo é se arriscar a perdê-lo." Outro exemplo: a ideia deste vídeo é também o texto de encerramento de "The Anthropocene Reviewed": https://youtu.be/wSOuKxLjO0k O último livro de Green é isso: de árvores a fotos antigas, de concurso de quem come mais hot dogs a reflexões sobre ter doenças mentais durante uma pandemia. Eu gostaria mais se a publicação não fosse tão vinculada à covid-19, porque há uma beleza atemporal em muitos dos textos (mas entendo o porquê da presença forte do tema). Depois de trabalhar muitos anos como resenhista, o autor de ...

Coisas impossíveis (filme de 2021)

Tematizando a amizade entre uma idosa e um adolescente, o filme consegue se sustentar bem. Mas não é tão imperdível assim; fiquei pensando por que tem uma nota relativamente alta (7,7) no imdb. A conclusão a que cheguei é que os temas de que trata - violência doméstica, casais gays e descoberta da sexualidade (seja na adolescência, seja na velhice) são ainda mais tabus no México do que em terras verde-amarelas.

Um conto de amor e desejo (filme de 2021)

Daqueles filmes que assistimos por acaso, para passar o tempo, e que nos atravessam. Entrei no cinema sem saber nada sobre o enredo, mas nos primeiros minutos já achei que havia sido feito sob demanda para mim: tudo do que gosto está lá. A trama é sobre: um estudante de Letras a descoberta da poesia a descoberta do corpo a descoberta do corpo na poesia imigração alteridade de idiomas confronto de classes sociais Tudo isso culmina em uma cena orgástica ao final, mas conduzida bem devagarinho, apreciando o som de cada palavra de uma língua que não falamos.

Los conjurados (Jorge Luis Borges)

Último livro de Borges, "Los conjurados" já traz o tom de quem sabe seu próprio fim. A obra é uma grande canção de despedida, em que a morte é o tema principal - rodeada por labirintos e espelhos borgianos, é claro. Como conheço pouco da produção do autor, sei que devo ter deixado escapar muitas referências durante a leitura; afinal, por ser uma obra de encerramento, retoma muito do passado literário que formou a produção do argentino.

O som e a fúria (William Faulkner)

Fui leitora ávida de obras escritas com fluxo de consciência quando adolescente - mas, depois de um tempo, foi um recurso que deixou de funcionar para mim. No geral, passei a encarar a técnica como autocentrada demais, sem vínculos concretos com a sociedade. Com Faulkner, contudo, aparentemente superei meu bloqueio para narrativas imersas na mente dos personagens. O fato de a trama de "O som e a fúria" ser um quebra-cabeça muito bem amarrado foi meu incentivo para querer passar as páginas. E o esforço vale a pena: a cada novo capítulo (e diferente narrador), o romance se torna mais inteligível. O trabalho de desvendar a temporalidade e os fatos que envolvem os personagens cria um desafio lógico-argumentativo que é delicioso de resolver.

Samba (filme de 2014)

No cinema que se produz hoje, é recorrente esbarrar nas mesmas questões gritantes da nossa atualidade: imigração, fragilidade do conforto da classe média, subemprego, exploração. São os assuntos mais prementes da nossa difícil convivência... e é tão bonito vê-los retratados com profundidade que ressignifica e questiona.  Quase toda obra, se analisada com ponta de faca, apresentará problemas - ainda mais ao tocar em temas tão delicados. Aqui, o que temos não é um filme perfeito, mas sim uma produção capaz de comover e levar a compreender minimamente a dor de quem nos é estranho. Por mais que aborde a catástrofe humanitária de imigrantes e refugiados, o longa é permeado de leveza, humor e amor. Talvez o contraste seja proposital, para aumentar o baque quando o desespero bate à porta do protagonista. Mas a vida também é assim, feita de doses imprevisíveis de alegria e devastação.

O céu de outubro (filme de 1999)

Com a participação de um Jake Gyllenhaal menino, o filme é quase que a biografia de um projeto de pesquisa. É difícil pensar em uma feira de ciências escolar como um momento épico, mas a obra tenta refazer o percurso de um adolescente encantado pela construção de foguetes e sem muitas perspectivas profissionais em uma cidade mineira do sul dos EUA. A oposição entre o interior das minas, nas entranhas da terra, e o desejo de desbravar o céu é interessante. Contudo, talvez o aspecto que mais encante no filme seja ver como um assunto escolar é capaz de cativar se for tratado da maneira certa.

100 metros (filme de 2016)

Inspirado em uma história real, o filme traz como protagonista um jovem publicitário que descobre ter esclerose múltipla. Ao sentir que perderia o controle sobre seu corpo, decide testá-lo até o limite em uma prova de Iron man - em que correr 42km é apenas uma das etapas a serem cumpridas. Ramón Arroyo, em quem o filme se inspira, acompanhou a produção, mas afirma que há uma boa dose de elementos ficcionais na trama. A narração dá uma boa exagerada no sofrimento (que já é enorme) para tentar sensibilizar ainda mais a audiência. De qualquer forma, é uma boa história de superação.

Inspire, expire (filme de 2018)

Com algo de "Nomadland" (ou talvez alguma semelhança com os filmes de Ken Loach, marcados pelo esgarçamento da linha entre classe média e miséria), a primeira cena de "Inspire, expire" já nos leva para um contexto de pobreza remediada na Islândia. Lembro-me de ter lido este ano (não recordo onde) que o pior tipo de pobreza é aquele que tem de ser disfarçado. É sobre isso que o filme trata, de forma geral: uma mãe que consegue o emprego sonhado na polícia imigratória e que precisa manter a aparência de estabilidade até o fim do período probatório. Aliás, que alegoria linda da narrativa para pensarmos em catracas sociais. Também é uma história bonita sobre amizade e sororidade. Gosto muito de tramas que tematizam o encontro epifânico de desconhecidos - com uma pontadinha de esperança no meio do turbilhão de misérias, fica ainda melhor.

Guia Barcelona de bicicleta

Voltado para quem pretende percorrer a cidade em duas rodas, é um guia cheio de dicas que se adapta bem aos pedestres. Para quem pode fazer uma viagem mais pausada e se dar o prazer de descobrir a cidade, é uma ótima opção.

Guia Montevidéu (Viver Uruguay)

O guia do blog Viver Uruguay é maravilhoso e bem atualizado; foi por ele que aumentei minha estadia de 3 dias (no país inteiro) para 9 dias (apenas em Montevidéu). É um ótimo livro para repensarmos nossos preconceitos em relação ao Uruguai turístico.