Federico García Lorca, assassinado pelas forças fascistas durante a Guerra Civil Espanhola, carrega o estigma de artista mártir. Como os jovens suicidas (lembremos de Sylvia Plath e David Foster Wallace), por vezes uma crítica menos especializada atribui o sucesso de sua obra mais às condições trágicas de sua morte do que ao seu valor literário. Um dos meus dramaturgos mais queridos, com uma força de expressão teatral poucas vezes vista, Lorca também é o autor de versos carregados de símbolos, metáforas, alegorias. Ao contrário de suas peças, com uma linguagem mais direta (ainda que não menos carregadas de profundidade), seus poemas são quase herméticos, mesmo em livros curtos - caso dos "Sonetos del amor oscuro" e "Diván del Tamarit". Com construções quase insólitas ("as imóveis caveiras dos cavalos", "a paisagem de osso"), a poética de Lorca é intrincada, quase labiríntica. Cada sentido desvelado encaminha a outro verso, por vezes mais enig...