Meu autor de 2017 foi Oliver Sacks, que, mesmo longe do mundo literário, me apresentou as grandes possibilidades ficcionais da mente humana. Neurologista, o autor faz de seus diagnósticos relatos pessoais, em que podemos acompanhar casos clínicos quase inverossímeis de tão descolados da nossa realidade habitual. "Tempo de despertar", primeiro livro do cientista, acompanha a história de pacientes aparentemente catatônicos e a descoberta de uma droga que irá "despertá-los" - de forma intermitente e não isenta de conflitos. O interessante nos relatos de Sacks é que, além de colocar-nos em contato próximo com cada doente, amplia o nosso paradigma acerca de conceitos complexos, como normalidade e loucura. Dotar pacientes, considerados casos perdidos, de voz, notar suas personalidades, registrar seus desejos, enfim, humanizá-los - este é o trabalho de Sacks, tão avesso à medicina tradicional. Por dar relevância às histórias pessoais, o autor não acredita em soluções f...