Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de junho, 2014

Quem escreveu Shakespeare? (James Shapiro)

A discussão sobre a autoria dos trabalhos de Shakespeare é longa (mais ainda do que imaginava, antes de ler essa obra). No entanto, ao descobrirmos os métodos de análise da obra do bardo e os possíveis candidatos a seu posto, fica difícil não concordar com a visão de Shapiro: Shakespeare foi... Shakespeare. Se tentamos tão veementemente buscar outros autores que poderiam ter escrito sua obra, pode ser pela incredulidade diante de um trabalho tão bem articulado nas mãos de uma única pessoa. E, realmente, segundo os dados a que temos acesso hoje, podemos dizer que muitas das obras de Shakespeare foram escritas em conjunto.  Quando discutimos a falta de provas sobre a origem dos escritos do autor, esquecemos por vezes que a noção de individualidade e de direitos autorais é característica da nossa época, e não um valor historicamente universal. O livro de Shapiro, além de nos convencer que muito desse debate está fundamentado em fraudes e argumentos frágeis, é interessante pelo c

O nome da rosa - o livro versus o filme

Quando assisti ao filme O nome da rosa , há muitos anos atrás, fiquei impressionada com a trama e instigada a ler o livro, tarefa que só cumpri agora. No entanto, ainda que tenha sido minha inspiração para a leitura, ao reassistir a obra cinematográfica fiquei decepcionada. A máxima de que o filme sempre perde para o livro, ao menos aqui, é muito verdadeira. A leitura é uma experiência que nos faz mergulhar no contexto da Idade Média. A primeira parte da obra é bastante pesada, com todo o contexto histórico e filosófico da trama, além de muitos trechos em latim (e não traduzidos). No entanto, ao enfrentarmos esse obstáculo a leitura se torna bastante prazerosa, com desafios de lógica muito interessantes. O entendimento do livro passa longe de ser completo, pois Umberto Eco não é um facilitador. O autor nos desafia com sua inteligência e seu conhecimento sobre as características da sociedade do período. Assim como Adso e Guilherme têm um desafio relacionado a um livro, o leitor

Machu Picchu - na trilha dos incas (Geraldo Abud Rossi)

Apesar de ser uma edição de 2011, o livro conta uma aventura antiga de seu autor. Ainda que um bom passeio dê pano pra manga e para tecer muitas narrativas, como guia de viagem a obra resulta inevitavelmente anacrônica.  No relato, a hoje famosa trilha de Salkantay é descrita como um atalho praticamente desconhecido, e o entorno de Machu Picchu não parecia ainda tão modificado em função do turismo. Para se ter uma ideia do quanto a aventura narrada tem um ar de antiguidade, as fotografias ainda dependiam de filme e revelação. E, para o nosso mundo de tempo acelerado, qualquer década de atraso na publicação soa como milênios. A diagramação, como a da maioria dos livros de viagem, concentra todas as fotos em um mesmo lugar, o que não garante uma leitura mais apaixonada. A parte histórica do livro é interessante, apesar de não me parecer parte de uma pesquisa mais profunda sobre o tema.  Machu Picchu sempre é um grande tema, mas sozinho não garante grandes livros.

Mi país inventado (Isabel Allende)

O livro é um misto de autobiografia, crônicas e guia de turismo. Apesar de acabar recorrendo a certos estereótipos (a própria autora nos afirma estar consciente desse processo), a obra é um excelente ingresso à cultura, história e caráter chileno. Apesar de ser impossível definir a essência de um povo, a escritora consegue traçar um bom panorama das paisagens, costumes, idiossincrasias dessa nação. A obra oferece ainda um panorama de toda a produção literária da autora: não só conhecemos um pouco mais sobre o enredo de cada livro, como descobrimos seu contexto e inspiração. Não é um livro tão marcante do ponto de vista da autobiografia, mas quase indispensável para quem quer conhecer melhor a nação chilena. Trechos: Nadie sabe para quién escribe. Cada libro es un mensaje lanzado en una botella al mar con la esperanza de que arribe a otra orilla. Así es la nostalgia: un lento baile circular. Los recuerdos no se organizan cronológicamente, son como el humo, tan cambiantes y efí