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Mostrando postagens de junho, 2016

Gabo em quadrinhos (roteiro de Óscar Pantoja)

A biografia em quadrinhos sobre Gabriel García Márquez vai muito além de apresentar suas obras ou uma cronologia ordenada de sua vida. Cheio de vai-e-vens no tempo, o livro retrata a existência do escritor colombiano pautando-se pelo lirismo, principalmente no que se refere ao seu romance monumental - Cem anos de solidão. Os quadrinhos se dividem em quatro partes, cada uma com predominância de uma cor e desenhada por diferente ilustrador (ainda que o traço se mantenha o mesmo ao longo de todo o livro). Cada uma delas exibirá um recorte do tempo, ainda que haja digressões, flashbacks e fastfowards . Há uma certa idealização desnecessária sobre Gabo, assim como fatos trágicos são desnecessariamente ignorados - como os seus últimos anos, nos quais foi acometido por doenças mentais. Também não há muito propósito em contratar quatro ilustradores para desenhar do mesmo jeito. Ainda que tenha esses poréns, é uma obra deliciosa de ler e que cumpre seu propósito: nos deixa ainda mais

The strange library (Haruki Murakami)

A obra, aparentemente infantojuvenil, trabalha de maneira um tanto irônica a ideia do amor aos livros. O mote principal é a história de um garoto, que, ao ser sequestrado na própria biblioteca de sua cidade, descobre em que consiste o pagamento de seus funcionários: o direito de raptar um usuário, de vez em quando, para comer seu saboroso cérebro. Aliás, quanto mais o leitor for curioso e empenhado, mais delicioso será o banquete para os bibliotecários. Outros dois personagens, ainda mais próximos da fronteira do inverossímil (ou do real maravilhoso) participam diretamente da trama: um homem que se veste como carneiro e é assistente do bibliotecário e uma menina "diferentona", diga-se de passagem (que é meio fantasma, meio ilusão, meio difícil de definir). Um adendo: para quem leu "Caçando carneiros", fica bem claro que a ideia do homem-animal faz parte da mitologia pessoal do escritor. Na última página da obra, para ser exata, vemos que este não é apenas m

As brumas de Avalon (livros e filme)

Marion Zimmer Bradley, autora de "As brumas de Avalon", segue uma proposta interessante ao longo de sua carreira literária: recontar as grandes narrativas do ponto de vista de suas personagens femininas. Nesta obra, acompanhamos as histórias de Camelot e do reinado de Arthur por meio de Morgana (que chega a assumir a posição de narradora em primeira pessoa em alguns excertos) e de Guinevere, principalmente. O mote, que dá liga às mais de 800 páginas da trama, é o embate entre a velha religião (baseada nos poderes da natureza, encarnada na figura da Deusa) e o nascente cristianismo. As protagonistas serão representantes de cada uma dessas duas vertentes em conflito, ainda que a base da obra seja que todas as deusas e deuses representem, na verdade, uma só divindade. Construída sob o signo da literatura de entretenimento, a obra conta com reviravoltas, crescentes narrativos e momentos de suspense para garantir a atenção constante do leitor. De fato, é uma escrita gostosa de

Macanudo 6 (Liniers)

Uma série de personagens um tanto surreais, tiras existencialistas, filosofia sobre o nada - Liniers mistura conteúdos densos a um traço meio lúdico, meio psicodélico, alcançando resultados inesperados no mundo dos quadrinhos. Suas tiras (na maioria) não são de fácil compreensão e é preciso uma certa imersão no universo particular dos personagens para desfrutar a leitura. No entanto, uma vez que entremos em sintonia com o dibujante , podemos esperar maravilhas de sua criação.

Formas de voltar para casa (Alejandro Zambra)

Meu caso com Zambra foi amor à primeira vista - ou talvez amizade, já que suas obras são clássicas por retratarem paixões mal resolvidas, mal começadas, mal vividas. Não há muito espaço para o amor nas relações truncadas que são o foco do autor chileno. Apesar de ter sido fisgada pelo começo abrupto de Bonsai ("Ao final ela morre e ele fica sozinho, ainda que tivesse ficado só vários anos antes da morte dela, de Emilia") e pelo retrato delicado de "A vida privada das árvores", foi em "Formas de voltar para casa" que o autor definitivamente me ganhou. Não há grandes emoções ou reviravoltas no enredo (talvez apenas uma enorme melancolia). Ainda assim, na descrição de um cotidiano frustrado, o escritor consegue pinceladas de poesia em um cenário de crítica às nossas relações familiares. O contexto, muito similar ao do Brasil atual, talvez tenha sido o meu elemento de forte identificação com a obra. Nela, o narrador conta sua infância em meio à dita