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Mostrando postagens de novembro, 2014

Nascidos em bordéis (documentário de 2004)

De maneira geral, o cinema indiano me atrai muito: a descoberta de algumas produções desse país abriu minha mente para os filmes asiáticos e me rendeu boas surpresas. No entanto, até então meu conhecimento nesse campo abrangia apenas os romances de Bollywood; "Nascidos em bordéis" foi minha primeira experiência com documentários indianos. Sabem aqueles filmes americanos (clássicos de Sessão da Tarde) em que um professor revoluciona a vida de seus alunos? Se essas produções clichês já são emocionantes, preparem a caixa de lenços de papel para assistir a esse relato: por meio de aulas sobre fotografia, uma educadora consegue mudar profundamente a vida das crianças com quem convive. E, por ser real (e não uma representação estrelada pela Michelle Pfeiffer) é ainda mais emocionante. A comunidade em que Zana (produtora do filme) trabalha é conhecida como a zona vermelha da cidade de Calcutá. Lugar de prostituição, drogas e muita violência, no qual parece não haver es

Momo e o senhor do tempo (Michael Ende)

Michael Ende é o autor alemão de "Uma história sem fim", um enredo mágico que foi adaptado para os cinemas e ganhou uma grande legião de fãs nos anos 80 e 90. Vasculhando sua bibliografia, descobrimos que o sucesso da narrativa de Atreyu não é isolado: seu criador é um grande contador de histórias, daquelas que realmente não merecem ter fim. A garota Momo, protagonista desta trama, é um ícone da inocência que não deve ser perdida na infância - ela sabe viver seu tempo, sem se submeter às regras dos adultos (sempre tão atarefados). Seus conhecimentos não vêm da escola, mas dos ensinamentos da comunidade e da natureza; seu grande atrativo é ter o dom de escutar em um mundo em que ninguém quer se ouvir. E é com essas qualidades, tão naturais e simples, que a menina enfrenta as tramoias elaboradas pelos ladrões do tempo. Apesar do cenário fantástico e da linguagem acessível, o melhor interlocutor para esta narrativa é o adulto - principalmente aquele que já tem fi

Para hacer un pastel de manzana (Pablo Albo)

O livro, que se destina a crianças pequenas, conta com um enredo bastante simples, o qual vai na contramão da vida acelerada que marca a infância de hoje. A história busca cativar seu jovem leitor e levá-lo a refletir sobre o valor das pequenas coisas.  As ilustrações delicadas ajudam a compor o clima do enredo, no qual excessos são desprezados em nome de bens mais simples. O decorrer da trama leva a criança a pensar em um ato de cada vez, a olhar com mais cuidado cada desenho, a tentar entender o porquê de cada ação dos personagens. Para os pequenos, vale a sugestão de leitura.

Nueve reinas (filme de 2000)

Mesmo em filmes medianos, Ricardo Darín é o máximo. Quem não conhece o astro argentino não sabe o que perde. O cinema dos hermanos me parece muito mais maduro do que a produção brasileira, ainda muito calcada em enredos novelísticos. "Nueve reinas" não é nenhuma obra revolucionária, vanguardista ou mesmo profunda. É um enredo simples, com elementos de suspense, aventura e humor. No entanto, é tudo tão bem encaixado que dificilmente o espectador não se deixará envolver pela história. As atuações são verossímeis e nos deixamos fisgar pelos protagonistas enigmáticos que conduzem a trama. É uma boa pedida. Dale!

Armandinho 1, 2 e 3 (Alexandre Beck)

O personagem de cabelo azul já ganhou apelidos que o aproximam dos famosos Calvin e Mafalda. No entanto, o toque brasileiro é que faz a diferença e aproxima Armandinho de seus leitores. O garotinho, que não gosta muito da escola, mostra que a sabedoria vai muito além dos bancos da sala de aula. Desde questões políticas específicas - do Brasil ou de Santa Catarina - até piadas simples sobre assuntos cotidianos, a força das suas tirinhas reside também na versatilidade. O ponto de vista infantil nos serve de guia nesses quadrinhos, nos quais os adultos aparecem sempre retratados sob o viés da criança. Para comprovar esse fato, basta observar o traço: assim como na clássica animação dos Muppets, apenas as pernas dos personagens mais velhos são desenhadas. Se a semelhança com Mafalda está no aspecto irreverente (e nos cabelos que são marca registrada), com Calvin o parentesco vai além: em muitas das tirinhas, Armandinho aparece com seu bicho de estimação (um sapo que, inclusi

Eu sou um gato (Natsume Soseki)

O livro, narrado por um gato, ironiza seus personagens humanos a cada página. Ao descrever os problemas nos quais se envolve seu amo, o felino apenas realça a hipocrisia e o tom patético desses seres ditos racionais. É um romance bem escrito, com inúmeras referências intertextuais à cultura japonesa e ocidental e detalhes que dizem respeito à própria vida do autor. No entanto, por parecer mais interessado em desenvolver uma tese do que em cativar o seu leitor, a trama acaba se tornando um pouco maçante ao longo das cerca de 500 páginas.  Trechos: Inexiste lei que conceda a alguém a propriedade sobre algo que não criou. Mesmo que essa propriedade seja determinada, isso não é motivo para impedir que outros entrem nela livremente. Levantar cercas ou piquetes em terras vastas, delimitando o espaço, é como dividir o firmamento: esta parte é minha, aquela é sua. Se a terra é dividida e se comercializam direitos de propriedade, nada mais natural do que dividirmos também o ar que re