Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro, 2021

The Florida Project (filme de 2017)

Se os filmes hollywoodianos contam com um bem conhecido roteiro pronto, não é a aura intelectualizada do Cannes que abstém os seus longas premiados a também se apoiarem em uma muleta narrativa. Para mim, esse recurso pré-pronto fica bastante visível com a seguinte junção de elementos: nenhum fato em destaque no enredo, cenas de conversas cotidianas nas quais se revelam os problemas dos personagens, um cenário que ambiente seus dramas. Em "The Florida Project", apesar das atuações excelentes (especialmente das crianças), não há muito de novo, uma vez que se entenda as metáforas e camadas de contraposições que o longa oferece. A ideia de compor os arredores da Disney como um lugar de infâncias degradadas é interessante, mas por si só não instiga o suficiente.

Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (filme de 2021)

A proposta de marketing por trás da história de um herói chinês da Marvel é bastante clara. Considerando esse aspecto, o que é mais louvável no filme é o esforço mínimo para manter alguma ligação com a cultura homenageada, como: cenas relativamente longas de diálogos em mandarim; efeitos especiais que lembram a estética do Clã das adagas voadoras , por exemplo; algumas referências a aspectos culturais orientais (não necessariamente chineses). Fora isso, os personagens não conseguem cativar pelos diálogos (mas, para mim, essa é uma tônica geral dos filmes da Marvel). E, ainda segundo o meu gosto pessoal, tem lutinha demais.   

Não basta dizer não (Naomi Klein)

Escrito no fulgor das eleições que colocaram Trump na presidência dos Estados Unidos, o livro não resistiu muito bem à passagem do tempo – ainda que essa sensação anacrônica ocorra principalmente no início da obra, mais focado em apresentar o contexto que deu tanto poder a quem não tinha nenhuma experiência prévia na política. Muitas das piores previsões de Klein tampouco se confirmaram, o que talvez demonstre que precisamos ter uma dose de confiança maior no mundo (mesmo que o estado caótico em que nos encontramos sugira o contrário). Conforme sua análise avança, a autora se detém mais acuradamente na teoria do choque, tema de pesquisa já explicitado anteriormente em outros livros. Esse é talvez o ponto em que a escrita melhor resista à passagem do tempo, ao colocar os fatos em uma perspectiva histórica mais ampla e universal.