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Mostrando postagens de março, 2021

Alfonsina Storni para chicos y chicas (Nadia Fink e Pitu Saá)

Não sei se, na ordem de publicação, o livro sobre Alfonsina Storni veio antes que o sobre Che Guevara. De qualquer forma, para mim foi um alívio ver que tudo o que não tinha gostado no Che  — a linguagem inclusiva-incompreensível, a valorização da guerra, a apresentação da figura retratada como grande herói — não estão presentes aqui. Abro uma exceção para os erros de ortografia, que eram abundantes no Che... e que também passam na biografia da poeta argentina. O retrato de Storni é feito com muita delicadeza. Minha única dúvida é em relação ao modo como seu suicídio é descrito, com um tom que beira a exaltação. Ainda que o tema deva ser discutido com as crianças, precaução pouca não é bobagem. As atividades propostas ao final da leitura trabalham brincadeiras com rimas e versos. São excelentes para conhecer mais de perto os poemas de Alfonsina e o ofício de poeta.

Armandinho 10 (Alexandre Beck)

O décimo volume de Armandinho não foge de pautas políticas — o que é ótimo. Ainda assim, algumas tirinhas parecem pecar por um tom quase didático, deixando a sagacidade que tanto marca o personagem de lado. Gosto mais do Armandinho afiado, que sabe que o leitor entende suas piadas e não perde tempo com explicações.

Jeremias: Alma (Rafael Calça e Jefferson Costa)

Alma  é uma continuação muito bem arquitetada de Pele , o título anterior de Rafael Calça e Jefferson Costa para o selo Graphic MSP. Minha impressão é ter gostado ainda mais deste segundo volume, mas é muito difícil falar em qualquer superação da dupla. O que existe, de fato, é uma complementação temática: o que não foi abordado antes o é agora. E nenhuma das pautas de ambos os volumes é menos importante que as de outro. Talvez o que tenha me encantado particularmente em Alma  é o trabalho gráfico. Há uma sequência de páginas dedicada à contação de histórias de uma griô que são de tirar o fôlego. O fato de dialogar com a cultura indígena também é outro ponto de destaque. Quadrinho maravilhoso, é uma excelente opção de paradidático... mas, mesmo fora do âmbito escolar, é uma leitura que só trará ensinamentos profundos.

Paper Man (filme de 2009)

O mote de um escritor com bloqueio criativo sempre me interessa. Ao contrário de outro filme sobre o tema que vi recentemente (o melancólico e pessimista  Kennedy e eu ), aqui a ideia é fazer graça em torno do autor diante da página em branco. Talvez o que salve o humor do filme seja a bizarrice: boa parte das piadas giram ao redor de um amigo imaginário com cuequinha por cima da calça e capa esvoaçante (o figurino registrado de todo super-herói).  No entanto, o cômico da obra é bem menor do que o incômodo. E nem falo de tiradas que causam constrangimento (nesse ponto, até que as falas passam pelo nosso filtro). O problema é a relação esquisita de confiança entre uma adolescente e um cara bem mais velho — e casado. Ainda que o direcionamento da trama não culmine em uma comédia romântica, não é o suficiente para aliviar o espectador do interesse subentendido.

Wilde, o primeiro homem moderno (filme de 1997)

Uma biografia todinha socada em 2 horas de filme. Ainda que tenha pontos positivos, a impressão que tive ao assistir à obra sobre Wilde é que ela seria muito melhor desenvolvida em uma série, com espaço para os acontecimentos e sem os cortes bruscos entre uma passagem e outra da vida do autor retratado. Outro ponto que combinaria melhor com uma série é o fato de não haver carga dramática o suficiente,  por mais que Stephen Fry se assemelhe fisicamente ao protagonista . As cenas de descoberta da sexualidade são boas, e poderiam ocupar boa parte da trama de uma produção televisiva mais longa. Assim, quem sabe, o desfecho trágico de Wilde (tão superficialmente retratado) nos incomodaria menos, já que não seria a proposta principal. Ainda sobre Fry, também me incomodou não escolherem nenhum outro autor para interpretar Wilde nas diferentes fases da vida. Em uma época pré-tecnologias sofisticadas de edição, fica difícil de engolir um senhor de 40 anos interpretar um menino de 18. O que se s