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Mostrando postagens de dezembro, 2018

Dois sonhos (Dostoiévski)

Reunião de dois textos de Dostoiévski que têm por título a ideia do sonho, esta obra apresenta uma novela cômica e um conto de difícil classificação temática. "O sonho do titio", que abre o volume, tem a estrutura similar à de uma comédia de erros. Bastante teatral, conta com situações inusitadas e desfechos inesperados para os problemas que introduz. É uma narrativa que ridiculariza a nobreza russa ocidentalizada, apontando os interesses que regem as relações sociais da época. Já "Sonhos de Petersburgo em verso e prosa" é um texto bastante confuso, cheio de referências datadas que o tornam bem cansativo. Ainda que tenha um começo genial, aos poucos o texto se perde e anula o interesse de quem é leitor do século XXI, tão distante das piadas internas que o autor faz em relação aos figurões de sua época.

Jogador número 1 (filme de 2018)

Ainda que o melhor Steven Spielberg seja o dos anos 1990, "Jogador número 1" consegue recuperar algumas das características mais interessantes do diretor. Com um núcleo de protagonistas adolescentes que precisam resolver mistérios e salvar o mundo, a trama cria uma ambientação interessante (naquele clima de filme da Sessão da Tarde). O ponto alto do filme, são dúvida, são os easter eggs. A proposta de criar pontes intertextuais sela um pacto de fidelidade com o espectador (principalmente com o mais cinéfilo).

Um pequeno herói (Dostoiévski)

Escrito durante o período em que Dostoiévski esteve preso, "Um pequeno herói" é um livro que, surpreendentemente, não tem um ambiente sombrio ou desolador. Ao contrário de obras anteriores do escritor, em que predominava o cenário da pobreza e/ou a melancolia da noite, esta é uma trama solar e burguesa. Assim como em Niétotchka Niezvânova, que o precede, "Um pequeno herói" é uma narrativa que acompanha o desenvolvimento de um protagonista no limiar entre a infância e a adolescência. E, novamente, é a descoberta amorosa que consolida a mudança de fase da personagem dostoievskiana. Não é de se estranhar que dois trabalhos seguidos do escritor tenham como figura central um adolescente - afinal, essa é uma fase rica para a psicanálise, em que conflitos pessoais, dramas e tabus se aprofundam vertiginosamente. Ao escolher uma época tão complexa da vida como foco de sua narrativa, o autor pode trabalhar com diversos temas em uma curta narrativa - a iniciação amorosa, o

Beasts of Burden: rituais animais (Evan Dorkin e Benjamin Dewey)

Com um clima que lembra o de "Stranger Things" e "Goonies", esta é uma história de jovens aventureiros que precisam resolver situações-limite envolvendo seres mágicos e conspirações de todo tipo, sem contar com o auxílio dos adultos. Ou, aliás, dos humanos - afinal, nossos protagonistas são uma bela equipe de cachorros. O traço da HQ é lindo, e reproduz fielmente alguns dos trejeitos dos bichinhos. Assim, quem tem companheiros de 4 patas tende a se identificar facilmente com a história. Ainda que a sequência de conflito-aventura-resolução do mistério me canse um pouco, as piadas ao longo da narrativa são muito bem pensadas. Dessa forma, até mesmo leitores mais afastados do gênero de suspense e mistério se sentem cativados pela trama.

A mão e a luva (Machado de Assis)

Segundo romance de Machado de Assis, a edição de "A mão e a luva" conta com um prefácio que serve à guisa de mea-culpa: "Esta novela, sujeita às urgências da publicação diária, saiu das mãos do autor capítulo a capítulo, sendo natural que a narração e o estilo padecessem com esse método de composição, um pouco fora dos hábitos do autor". Publicada em folhetim, a obra ainda tem um viés bastante romântico. Ainda que a ironia de Machado já comece a se desenhar aqui, o enredo acompanha basicamente a consolidação de uma história de amor. Entretanto, o autor sabe fugir da previsibilidade do romance romântico, unindo um casal que foge às expectativas do leitor. Como também afirma Machado em prefácio, a obra se desenha em torno do caráter da personagem Guiomar. É para atender aos seus caprichos e vontades que outras figuras são compostas ao longo do enredo. Portanto, mesmo com desfecho romântico, é um livro que já começa a questionar as possibilidades de se narrar uma h

O deserto dos tártaros (Dino Buzzati)

"O deserto dos tártaros" é uma obra sobre a vida que poderia ter sido e não foi. Espécie de romance de formação, ainda que acompanhemos seu protagonista apenas na fase adulta, o livro trata das expectativas continuamente frustradas pela maturidade. Não há, contudo, ironia ou amargura nesse relato - o que predomina é o tom de uma melancolia resignada, de uma esperança inútil. O tenente Drogo, personagem em torno da qual se constrói o enredo, é convocado para servir em um forte na região fronteiriça da Itália. O cenário de montanhas contornadas por um deserto diz muito sobre os altos sonhos de Drogo, que terminam ao rés-do-chão. Anos se passam enquanto o protagonista, vivenciando um cotidiano burocrático e sem sentido, espera por uma guerra, o grande momento no qual irá brilhar. A inocência de Drogo somada ao desfecho brutal da obra me lembrou muito o nosso "A hora da estrela", de Clarice. A grande diferença entre Drogo e Macabéa é o peso do tempo, que faz o prota

Sorry to Bother You (filme de 2018)

2018 foi o ano do genial videoclipe "This is America", do multifacetado artista Childish Gambino, que provocou polêmica ao expor cruamente o funcionamento da máquina do preconceito racial nos Estados Unidos. Coincidentemente ou não, "Sorry to Bother You" nasceu como álbum musical antes de ser transposto, com muitas ironias e intertextualidades, à tela do cinema. Assim como o diretor Boots Riley, artista que atua em várias áreas, o longa conversa com diversas linguagens e gêneros. Sabe aquela vontade de ir pausando o vídeo de Gambino para tentar entender todos os seus subentendidos? Ela se replica aqui, em uma obra que é igualmente poderosa no embate ao preconceito. Há uma dose de sarcasmo tão potente que extrapola o verossímil. No entanto, é na sua imersão no irreal e no grotesco que o filme consegue revelar o absurdo da distinção que se faz pela cor da pele. Para quem se interessa pela proposta, é absolutamente imperdível.

A promessa/A pane (Friedrich Dürrenmatt)

Friedrich Dürrenmatt é um autor suíço, ou seja, de um país literariamente híbrido, com 4 idiomas oficiais (francês, italiano, alemão e romanche). Um dos expoentes da literatura contemporânea na dita nação das neutralidades, o escritor usa o desenvolvimento e a estabilidade de sua terra natal como motivo de crítica e escárnio -- um panorama bastante diverso do que encontramos na literatura que nos é mais próxima. Ao ir na contracorrente do que poderíamos esperar enquanto leitores, Dürrenmatt cria uma prosa marcante, que questiona padrões já cristalizados no gênero. Sua novela "A promessa", como exemplo, é uma instigante narrativa policial, absolutamente envolvente, e que termina com um anticlímax. É duvidando da potencialidade do romance de mistério que o suíço consegue criar um plágio sarcástico muito mais interessante do que boa parte da produção que se detém nos esquemas consagrados. Já em "A pane", o mistério crescente finalizado com anticlímax se mantém, mas

Livros (Murray McCain e John Alcorn)

Com uma linguagem bastante afetiva em relação ao ato de ler, a pequena obra também é ricamente ilustrada, servindo como um ótimo gatilho para incentivar o interesse das crianças pelo universo da leitura.

Poemas 1913-1956 (Bertold Brecht)

Embarquei na leitura de Brecht com o espírito de uma quase vingança pelos resultados catastróficos das eleições de 2018. No entanto, o percurso que começou pelo ódio terminou com muito amor: com similaridades profundas entre os tempos que correm e meados do século XX, pude encontrar, no poeta, algum conforto e muita compreensão. As brigas com familiares pela intolerância política; a exaltação da anti-intelectualidade; a ascensão dos fascismos ao poder; a sociedade regida por um discurso hipócrita e profundamente violento - tudo isso é Brasil 2018 e também Alemanha dos anos 1940. O tempo, que agora já se repete como uma farsa, reproduz velhos e tristes esquemas. Se a reflexão de Brecht sobre a barbárie não traz alívio, ao menos ela dialoga com nossas incertezas mais atuais e profundas. Na voz desse poeta de quase 1 século atrás, encontrei uma possibilidade de encontro maior do que a que tenho no presente. Talvez o mérito seja do autor, atemporal; talvez o demérito seja nosso, seres

Rua Aribau (organização de Alice Sant'anna)

Antologia organizada pela Tag Experiências Literárias para acompanhar o livro "Nada", da escritora espanhola Carmen Laforet, a "Rua Aribau" remete ao cenário deste importante romance. Seus poemas giram em torno das mesmas temáticas abordadas pela obra - a solidão, a viagem, a adaptação, dentre outras. Como qualquer coletânea, irregular, ainda assim a obra conta com poemas muito interessantes e que dão uma boa mostra da produção poética feminina brasileira. 

Eletrocardiodrama (Germana Zanettini)

Poeta que conheci por viralizações literárias do Facebook, Germana Zanettini é uma escritora de produção ainda curta, mas já bastante significativa. Com apenas 1 livro individual publicado até o momento, já ganhou prêmios importantes de literatura e teve seus poemas divulgados em ônibus, agendas, posts replicados ad infinitum.  Com uma verve poética simples - mas não simplista - seu estilo tem traços da poética de um Leminski, de um Mario Quintana. No entanto, ainda que seja possível criar tais espelhamentos, não é possível reduzir a obra às suas prováveis influências.  Um dos traços mais interessantes no livro de estreia da jovem autora gaúcha é seu diálogo forte com a contemporaneidade, mas sem cair em experimentalismos forçados. A linguagem é moderna e fluida na medida suficiente para ser facilmente compreendida - mesmo quando os poemas,em sua maioria curtos, são constituídos de várias camadas de significado.

Eu falo dos que não falam (Hans Magnus Enzensberger)

Lido por acaso, durante a faculdade, este livro de poesias foi um dos meus preferidos durante a época. Antologia de um poeta quase não traduzido para o português, a obra ainda tem o inconveniente de ser uma edição do antigo Círculo do Livro - ou seja, quase impossível de encontrar por menos de 3 dígitos em sebos. Presente no catálogo de 2019 da editora Todavia, Enzensberger é um autor que deve mesmo ser resgatado nos tempos atuais. Ainda que só tenha um vislumbre de sua obra, foi o suficiente para criar uma ideia da contemporaneidade da produção. O autor viveu tanto a Segunda Guerra Mundial quanto a separação das Alemanhas, o que marca uma visão extremamente amargurada e sem esperanças sobre o decorrer da história. Não há suavidade em seus poemas, feitos para causar choque e ironizar a sociedade da qual, sem escape possível, faz parte. Defesa do lobo contra os cordeiros Querem que o abutre coma miosótis? o que exigem do chacal? do lobo, que mude de pele? Querem que ele mesmo

Antologia incompleta da poesia contemporânea brasileira (organização de Adriana Calcanhotto)

Grande leitora de poesia, Adriana Calcanhotto soube organizar uma antologia muito interessante da produção contemporânea. Ao declarar, já no prefácio, que o trabalho de criar uma coletânea é sempre pautado por preferências pessoais, a cantora não se propõe a oferecer nada mais que um conjunto de poemas de que gosta - e, por meio dessa modéstia, consegue dar corpo a uma reunião muito consistente de textos. A sequência dos poemas é pensada de forma a dar unidade à obra; no entanto, como nos garante a organizadora, também é possível ler os textos sem ordem nenhuma - testando, assim, a liberdade inerente ao texto poético. Por meio da incompletude oferecida neste livro, pude ter o contato inicial com vários poetas interessantes, que ainda estavam ausentes das minhas listas usuais de leitura. Resta, agora, completar as lacunas deixadas pela antologia.

Black Bazaar (Alain Mabanckou)

Autor convidado para a Festa Literária Internacional de Paraty em 2018, Alain Mabanckou foi anunciado como uma das vozes africanas mais interessantes dos últimos tempos. No entanto, ao entrar em contato com a sua obra (e mesmo assistindo à sua fala durante a Flip), não tive surpresas positivas. Em "Black Bazaar", o uso da linguagem coloquial serve como desculpa para inconsistências linguísticas - como o excesso de frases machistas e insinuações bregas ao sexo -; a história da África, como pretexto para um revisionismo fraco e a mando do colonizador; o enredo, como meio de preencher páginas e páginas com falatório incoerente. Por ter um  protagonista escritor, uma ou duas passagens da obra são interessantes do ponto de vista metalinguístico; de resto, perdi o interesse pela produção e pela figura de Mabanckou, que parece mais preocupado com o uso de roupas de grife do que com a qualidade da narração.

Breve antologia da poesia engraçada (organização de Gregório Duvivier)

Realmente breve, mas nem tão engraçada assim - a antologia de poesia cômica organizada pelo (também) humorista Gregório Duvivier pode despertar polêmica em relação à existência ou não de humor nos poemas. Ao contrário de antologias maiores, nas quais sabemos de antemão que teremos preferência por alguns textos, o formato enxuto da obra organizada por Duvivier eleva as expectativas em relação a cada um dos poemas presentes. Não se trata de uma má seleção; no entanto, talvez o título da coletânea prometa mais do que o que de fato se cumpre. Dentre os textos que compõem a breve obra, uma boa parte conta com uma verve mais melancólica, por vezes desesperançada. Neste curto compilado, até o riso é breve.

Bohemian Rhapsody (filme de 2018)

Visto como um ícone do rock britânico, dificilmente Freddie Mercury é associado às suas origens multiétnicas: nascido na Tanzânia e filho de pais indianos, o cantor é fruto de um mundo já globalizado e de fronteiras líquidas. A escolha de Rami Malek (ator de origem egípcia) reforça esse aspecto tão essencial da vida do cantor. Entre o masculino e o feminino, o barítono e o tenor, o oriental e o ocidental, o vocalista do Queen é a prova do quanto a soma dos diferentes pode ser positiva. Mesmo que este não seja o foco da produção, a opção do longa de não abrir mão das ambiguidades fundamentais de Mercury contribui para um retrato mais apurado do seu biografado. Em um filme que procura recriar o percurso de uma vida, o trabalho do ator principal é fundamental. Assim o demonstra Rami Malek, que faz interpretações musicais surpreendentes, trazendo à vida com primazia a voz, os trejeitos e as maravilhas de Freddie Mercury.

Dictadoras (Rosa Montero)

Rosa Montero é uma prolífica escritora espanhola, que se aventurou por diferentes gêneros ao longo da carreira. Em "Dictadoras", a incursão em outras possibilidades vai ainda além do usual: a obra é uma reunião de textos que são fruto de um programa televisivo apresentado pela escritora.  A ideia da série/livro é investigar a vida das mulheres fundamentais na biografia de alguns dos maiores tiranos da história: Hitler, Mussolini, Franco e Stalin. Ainda que seja extremamente panorâmica, sem aprofundar-se nos personagens retratados, a obra é bastante curiosa e traz muitos elementos de interesse para o leitor. Para os gregos antigos, o homem político deveria ser escolhido dentre os cidadãos exemplares. Ainda que o conceito seja bastante problematizado hoje, é instigante notar que, de fato, os déspotas analisados foram igualmente execráveis na vida particular. Talvez a exceção seja Franco - casado com uma mulher ainda mais cruel do que ele próprio. Boa opção de leitura para q

O primeiro homem (filme de 2018)

Filmes hollywoodianos sobre a dita conquista do espaço costumam contar com clichês conhecidíssimos pelo espectador: as cenas gloriosas com música ao fundo; os momentos de apreensão dos trabalhadores da Nasa seguidos por efusões cheias de palmas e abraços; efeitos especiais dignos de videogame. Por não recorrer a quase nenhum desses recursos ululantes, "O primeiro homem" se destaca como um dos melhores filmes sobre a temática da viagem pelo universo. Dirigido por Damien Chazelle (que também conduziu o quase ganhador do Oscar - La La Land), o longa tem um clima melancólico, bem longe do patriotismo usual estadunidense. Além de acompanhar a vida de Neil Armstrong desde sua entrada na Nasa e revelar o quão longo foi seu percurso pessoal até estar pronto a dar o primeiro passo na Lua, a obra também revela dramas pessoais do astronauta, humanizando-o perante o espectador. O grande trunfo de "O primeiro homem", é, portanto, contar a história de um homem - e não de um h

As últimas testemunhas (Svetlana Aleksiévitch)

Meu livro de entrada na obra da autora bielorrusa Svetlana Aleksiévitch foi "Vozes de Tchernóbil", que coleta testemunhos sobre uma das grandes catástrofes da humanidade - sobre a qual, até então, eu não sabia quase nada. Perceber a dimensão do acidente nuclear (que foi mais uma consequência fatal do que um imprevisto) foi particularmente revelador para mim, e aumentou demais o meu interesse pela produção da autora. Em "As últimas testemunhas", que conta a história de crianças que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial, inicialmente meu choque não foi tão intenso. Por já saber de antemão o contexto de crueldades do conflito, pude ir mais preparada para a leitura - ainda que, com a repetição de histórias trágicas, tenha ficado mais sensibilizada conforme o decorrer da obra. O trabalho de Svetlana é profundamente humano, e revela sua autora por meio dos recortes que faz dos testemunhos que coleta. Assim, profundamente polifônica, sua obra é um meio de conhecer as v

O livreiro de Cabul (Asne Seierstad)

"O livreiro de Cabul" é um livro-reportagem bastante marcante, que trouxe à tona várias polêmicas relativas à sua elaboração. A obra é narrada do ponto de vista da jornalista norueguesa Asne Seierstad, que foi gentilmente acolhida na casa de um mercador de livros afegão pouco tempo após o atentado às Torres Gêmeas e ao consequente colapso do regime talibã. Imersa na cultura que a acolheu (convivendo na casa dos anfitriões, usando burca, participando das confraternizações), a jornalista pode acompanhar uma família inusual, mas, ainda assim, reflexo das tradições afegãs. Por ter sido recebida por pessoas que falavam correntemente inglês, Asne teve um vislumbre interessante das tensões que regem os núcleos familiares fundamentados no Islã e no patriarcado. Ainda que tenha usado nomes fictícios, a escritora recebeu duras críticas por seu retrato fiel do livreiro de Cabul - afinal, foi tão fácil reconhecê-lo que ele teve de se exilar com a família no Canadá para evitar persegu

School Circles: Every Voice Matters (filme de 2018)

O que é uma escola inovadora? Sem prender-se a nomes ou a definições metodológicas, o documentário School Circles visita algumas escolas da Holanda que optam por um ensino menos formal e mais colaborativo. Assim, podemos visualizar experiências de escola que diferem muito da usual carteira-lousa e refletir sobre seus acertos e eventuais carências. Entre as várias propostas interessantes oferecidas ao espectador, a que me chamou mais a atenção é a que se baseia na sociocracia. Por meio dela, as escolas se organizam não apenas levando em consideração a opinião da maioria (tal como funciona na democracia), mas sim a capacidade de adaptação e argumentação de todos. Novo para mim, o conceito me pareceu um ótimo modelo para repensarmos as falhas do nosso sistema democrático - que se refletem também na escola. A última frase do filme - "É o nosso direito" - deixa em evidência o que registros como esse procuram causar: a perspectiva de que uma educação diferente e libertadora não