Pular para o conteúdo principal

Macanudo 1 a 5 (Liniers)


“Macanudo” não é um termo muito usado em língua portuguesa, apesar de sua existência em nosso idioma. Para quem não sabe (nem eu fazia ideia), significa alguma coisa que é muito legal, bonita, agradável, que passa alegria e admiração. Portanto é uma palavra que transmite algo muito positivo. E é também um título bem apropriado para as tiras de Ricardo Siri Liniers.

Apesar de muitas tiras apresentarem histórias que não se marcam pelos seus personagens, alguns deles podem ser vistos com uma regularidade. Temos Enriqueta, a menina esperta com seu ursinho de pelúcia Madariaga e seu gato Fellini, com quem tem conversas profundas; há também os pinguins, os duendes, o robô sensível Z-25, o “homem que traduz os títulos dos filmes”, os pássaros, os sapos, os peixes.

Em sua maioria, os personagens de Liniers são simples. É o mímico medíocre, a garotinha esperta, pessoas realizando atividades comuns e rotineiras. Mas ele trata de assuntos comuns e rotineiros de uma forma encantadora, com uma certa mágica, de maneira que começamos a encarar as nossas próprias ações de forma diferente. Os próprios traços artísticos de suas tiras remetem à simplicidade e ingenuidade. Mas o quadrinista consegue ver através das atitudes banais e traz essa sua interpretação única, tornando o ordinário extraordinário.

Entre o humor, a crítica social e a emoção, Liniers delineia sua arte criando tiras inspiradas, divertidas e comoventes. Os volumes de Macanudo nos permitem algo incrível que os jornais, as plataformas originais das tiras de Liniers, não possibilitavam: ler várias tirinhas de uma vez. Pois é difícil ler somente uma e se dar por satisfeito.

Liniers já publicou até o nono volume de Macanudo, mas aqui no Brasil, por enquanto, foram publicados somente os cinco primeiros. 

http://www.experimento42.com.br/review-macanudo-vol-1/


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cenas de Abril (Ana Cristina Cesar)

O livro de estreia de Ana Cristina Cesar é inovador desde a capa, em que aparece a figura ambígua de um útero. Fragmentada e polissêmica é também a poética, em que pululam versos telegráficos, por vezes de compreensão dificílima para o leitor. Não se trata de uma tentativa de hermetismo, pelo contrário; o que causa estranhamento nos poemas é sua simplicidade cortante, com associações inusitadas e bastante diretas. Além disso, os assuntos não se mantêm ao longo dos textos; Ana Cristina salta com naturalidade entre temas complexos e diversos. Apesar de curto, é uma livro de estreia potente, com muitas possibilidades de interpretação - antecipando a grande e breve obra deixada pela autora.

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se