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O show de Truman (Filme de 1998)

"Show de Truman: Um homem tem sua vida inteira filmada e transmitida ao vivo pela TV, 24 horas por dia via satélite para todo o mundo, desde o seu nascimento. O filme começa a partir do episódio 10.909 desde o lançamento do Show. É o 30º ano ininterrupto de transmissão do "show" da vida de Truman Burbank como a primeira experiência de um "show real", pois Truman desconhece ser um personagem. Truman faz o “papel” de um corretor de seguros, é casado, e possui um amigo de infância, que sempre chega a sua casa com cervejas. Todos os dias cumprimenta seus vizinhos, da mesma forma, vai ao jornaleiro comprar revistas para sua mulher, encontra dois senhores que sempre prometem procurá-lo na seguradora. 

Tudo acontece num grande estúdio, na verdade o maior estúdio cinematográfico do mundo, que ao lado da Muralha da China é a única construção humana visível do espaço, é uma ilha chamada Seahaven: as casas, as ruas, os automóveis, o céu, o mar, a lua, o anoitecer, e a chuva, tudo se passa dentro de uma enorme cúpula, mas Truman não conhece esses limites: ele nunca viajou, nunca saiu de sua cidade, nunca ultrapassou suas margens. Cerca de 5 mil câmeras, filmam cada movimento de Truman, milhares de pessoas trabalham dia e noite para que o show funcione com total verossimilhança com a realidade. É um mundo dentro de outro mundo. O criador do programa é Christof. O programa é transmitido sem nenhuma interrupção, nem mesmo intervalo publicitário. A publicidade é feita de maneira diferente, explica Christof em uma das poucas entrevistas que concede que “tudo está à venda” o que os atores comem, roupas, até mesmo as casas em que vivem. 

O entrevistador continua a entrevista com Christof e pergunta “por que Truman nunca pensou até agora em questionar a natureza do mundo em que vive?” Christof reponde dizendo que “aceitamos a realidade do mundo tal qual ela nos é apresentada, Truman pode ir embora quando quiser. Se tivesse algo mais que uma mínima ambição, se estivesse absolutamente decidido a descobrir a verdade, não poderíamos impedi-lo. Truman prefere a sua cela. O Show de Truman é uma variação muito interessante do Mito da Caverna de Platão, mas difere da alegoria de Platão em que apenas um prisioneiro se liberta para abandonar as sombras da caverna e conhecer o mundo real, no filme há apenas um prisioneiro, e os demais atores que entram e saem dela. 

A fala do diretor do Show, Christof, está de acordo com a idéia do Mito da Caverna: poucos são os inclinados a distinguir entre o mundo das aparências e o mundo das realidades autênticas e poucos são os que se perguntam se vivem uma espécie de jogo de fantoches. Mas podemos imaginar, que se Platão visse o filme ele diria que nem mesmo Truman deixando de considerar como reais as sobras que passam na parede e tivesse podido descobrir os objetos que produzem estas sombras, não teria saído da caverna, não o que Platão considera como caverna. Teria que existir um segundo despertar por Truman em direção ao mundo das Formas, um mundo mais verdadeiro que o nosso. 

O livro VII da obra “A República” de Platão, mostra homens acorrentados, com o rosto voltado para o fundo de uma caverna, onde só enxergam sombras projetadas pelo fogo que há atrás deles, sombras que eles interpretam como as únicas realidades existentes. Se um deles sair da caverna, primeiramente, ficará ofuscado e precisará ser constrangido pelo hábito a ver as sombras, depois os objetos e depois o próprio Sol: se voltar para a caverna, não distinguirá mais nada, e os prisioneiros rirão dele e poderão até matá-lo. É uma alegoria das relações entre o homem e os objetos da linha: nós somos esses prisioneiros; a caverna é o mundo sensível; o fogo que projeta as sombras é o sol; a saída da caverna é a ascensão para o inteligível: o homem liberto, ao voltar para a caverna, é a imagem do filósofo, escarnecido pelos ignorantes. 

A educação é essa ascensão da alma, à qual a cidade deve levar os mais dotados não para a felicidade deles, mas para que desçam de novo a fim de governar a cidade. "

In: http://www.filosofia.com.br/vi_filme.php?id=15


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