O retrato cinematográfico da vida de Frida Kahlo é resultado de uma parceria entre Estados Unidos e Candá - ou seja, toda a América do Norte que não inclua o México, país de origem da pintora. Ainda que o resultado não seja necessariamente uma tragédia, há pontos que não podem deixar de ser comentados, como a opção por usar o idioma inglês com apenas uma ou outra palavra em espanhol. Se a língua é um definidor tão forte de nossa cultura, quem o dirá da cultura da artista mexicana, que sempre tematizou as suas raízes?
Além da questão idiomática, outros exageros visuais e melodramáticos fazem que a produção pareça mais um capítulo de uma novela de Glória Pérez do que uma tentativa séria de biografia. Assim como nas tentativas globais, não há uma imersão na cultura do outro - pelo contrário, todas as referências boiam na superfície do óbvio. Uma ou outra palavra em espanhol (invariavelmente os palavrões), o excesso de símbolos tropicais, as cores que extrapolam os quadros para tingir artificialmente a realidade mexicana: é isso o que se pode encontrar no longa.
Mais do que abordar a vida da personagem, o filme se propõe a retratar ao mesmo tempo a parceria Frida e Rivera. Ao ampliar o foco, obtém-se o inverossímil: um Diego abominável e uma Kahlo frágil, que se cala diante de muitas das injustiças de seu casamento. Ainda que seja de conhecimento público o quão tumultuado foi esse relacionamento, não parece crível que esses dois artistas sejam tão fracos no amor, tão sujeitos a estereótipos românticos.
O excesso de sensualidade em apenas algumas relações de Frida Kahlo também me incomodou. Quando a personagem, por exemplo, flerta com uma cantora parisiense anônima, a cena toda é composta para mostrar as duas enroscadas na cama. No entanto, quando Frida tem relações com Trotski (o que historicamente é muito interessante), mal aparece um selinho. O objetivo da produção parece ser mais retratar o corpão da Salma Hayek para conseguir bilheteria do que dar atenção às relações que realmente foram marcantes na vida de Frida.
Há montagens no meio do longa com um excesso de linguagem "ultra-pós-moderna", o que me pareceu bastante forçado, já que não combina com o tom adotado em todo o restante do filme. As referências aos quadros são interessantes, mas é curioso notar como Frida ficou mais moldada aos padrões de beleza no cinema: o bigode sumiu, a tez clareou, os símbolos de estranhamento foram apagados.
Para quem não conhece nada da vida sofrida e dolorosa da artista, vale a título de curiosidade. No entanto, como retrato fiel, prefira os que foram pintados pela própria Frida.
Além da questão idiomática, outros exageros visuais e melodramáticos fazem que a produção pareça mais um capítulo de uma novela de Glória Pérez do que uma tentativa séria de biografia. Assim como nas tentativas globais, não há uma imersão na cultura do outro - pelo contrário, todas as referências boiam na superfície do óbvio. Uma ou outra palavra em espanhol (invariavelmente os palavrões), o excesso de símbolos tropicais, as cores que extrapolam os quadros para tingir artificialmente a realidade mexicana: é isso o que se pode encontrar no longa.
Mais do que abordar a vida da personagem, o filme se propõe a retratar ao mesmo tempo a parceria Frida e Rivera. Ao ampliar o foco, obtém-se o inverossímil: um Diego abominável e uma Kahlo frágil, que se cala diante de muitas das injustiças de seu casamento. Ainda que seja de conhecimento público o quão tumultuado foi esse relacionamento, não parece crível que esses dois artistas sejam tão fracos no amor, tão sujeitos a estereótipos românticos.
O excesso de sensualidade em apenas algumas relações de Frida Kahlo também me incomodou. Quando a personagem, por exemplo, flerta com uma cantora parisiense anônima, a cena toda é composta para mostrar as duas enroscadas na cama. No entanto, quando Frida tem relações com Trotski (o que historicamente é muito interessante), mal aparece um selinho. O objetivo da produção parece ser mais retratar o corpão da Salma Hayek para conseguir bilheteria do que dar atenção às relações que realmente foram marcantes na vida de Frida.
Há montagens no meio do longa com um excesso de linguagem "ultra-pós-moderna", o que me pareceu bastante forçado, já que não combina com o tom adotado em todo o restante do filme. As referências aos quadros são interessantes, mas é curioso notar como Frida ficou mais moldada aos padrões de beleza no cinema: o bigode sumiu, a tez clareou, os símbolos de estranhamento foram apagados.
Para quem não conhece nada da vida sofrida e dolorosa da artista, vale a título de curiosidade. No entanto, como retrato fiel, prefira os que foram pintados pela própria Frida.
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