Pular para o conteúdo principal

Sete faces do sobrenatural

Inspirada pelas resenhas do mês do horror do canal literário Tiny Little Things, decidi me dedicar à leitura de contos com essa temática. No entanto, por não estar habituada ao assunto, resolvi começar por algo menos assustador, como a coletânea adolescente organizada por Marcia Kupstas.




Composto de 6 contos, o livro é metade bom, metade ruim. Três histórias são interessantes e quatro delas são bastante forçadas, com diálogos inverossímeis e situações que geram muito mais o sentimento de vergonha alheia que o de medo.

Os dois contos que iniciam a coletânea são os mais interessantes. "Quando só resta o demônio", de Orlando de Miranda, traz uma crítica social forte, que revela medos muito mais relacionados à violência cotidiana do que à presença do sobrenatural. "A caixa da vingança", de Marcia Kupstas, traz um ótimo desfecho para uma história de suspense que prende a atenção. Não tão bom quanto os dois primeiros, mas ainda digno de menção honrosa pela trama delicada que constrói, temos o conto "Velha, tartaruga e menina", de Ilka Brunhilde Laurito.

A indicação de filmes e livros sobre o tema, ao final do livro, também é válida. Pena que nem todos os autores de histórias de terror para o público juvenil tenham a mesma qualidade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h

Cenas de Abril (Ana Cristina Cesar)

O livro de estreia de Ana Cristina Cesar é inovador desde a capa, em que aparece a figura ambígua de um útero. Fragmentada e polissêmica é também a poética, em que pululam versos telegráficos, por vezes de compreensão dificílima para o leitor. Não se trata de uma tentativa de hermetismo, pelo contrário; o que causa estranhamento nos poemas é sua simplicidade cortante, com associações inusitadas e bastante diretas. Além disso, os assuntos não se mantêm ao longo dos textos; Ana Cristina salta com naturalidade entre temas complexos e diversos. Apesar de curto, é uma livro de estreia potente, com muitas possibilidades de interpretação - antecipando a grande e breve obra deixada pela autora.

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se