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Pinte-me da cor do açafrão (filme de 2006)

Minha fase de assistir a todos os filmes (que conseguia encontrar por aqui no Brasil, claro) do astro bollywoodiano Aamir Khan foi há uns cinco anos. Aventurei-me também por outras produções indianas na época, mas nenhuma delas me marcou tanto quanto os longas em que o ator, muito reconhecido no país, participa.

Talvez por seu prestígio, Aamir tem a chance de opinar na escolha de seus personagens: sempre carismáticos e cativantes, ainda que se trate de assassinos, vingadores, mafiosos e similares. Em "Pinte-me da cor do açafrão" (Rang de Basanti) não é diferente: seu adorável protagonista toma atitudes moralmente condenáveis (por alguns, ao menos).




O filme é bastante exagerado nos cenários, nas atuações, nas danças típicas e até em efeitos especiais forçados. No entanto, a reviravolta da narrativa culmina em uma história tão boa e tão provocante que é difícil passar indiferente a esta obra. São vários os problemas na estrutura do longa; contudo, o principal, que é construir uma excelente narrativa, tira-se de letra.

O paralelo entre a corrupção indiana e a brasileira, o descaso de ambos os governos e a truculência policial são apenas alguns dos motivos pelos quais este filme merece ser assistido. Índia e Brasil, apesar da distância física, têm muito a aprender um com o outro.






Comentários

  1. Sua visão relacionando o Brasil e a Índia é muito semelhante a minha; assisto muitos filmes indianos e vejo que a diferença mais marcante é o número de pessoas na população geral de cada país, mas,de resto... Eu moro no Rio de Janeiro e digo que tem lugares aqui muito iguais.E quanto aos filmes são muito bons e o exagero faz parte da visão dos indianos que exageram em tudo.

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