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Capitão Fantástico (filme de 2016)

O plot da obra parte de dois questionamentos fundamentais na vida de quem lida, de alguma forma, com o ensino: qual é a função da escola e quais são os objetivos da educação? Somos apresentados, enquanto espectadores, a uma família que decidiu rever seus conceitos sobre o tema, educando os filhos em casa. Ao contrário do que se poderia esperar, no entanto, o projeto "político-pedagógico" dos pais é extremamente abrangente, e tem em seu "currículo" desde a caça de animais selvagens até o aprendizado de línguas diversas.




O grande problema que essa modalidade de ensino traz (ao menos de acordo com a visão do diretor/roteirista do longa) é a perda de contato com o outro. Reclusas a conviver basicamente com a família, as crianças perdem habilidades sociais básicas, como a de entabular uma conversa - além de serem extremamente ingênuas.

Sem reverberar maniqueísmos, a trama sabe contrapor este modelo de educação alternativo ao método convencional, levando a concluir, talvez, que se uma nova abordagem para o ensino traz problemas, ela pode, contudo, ser ainda melhor do que a nossa atual escola falida e anacrônica.

A narrativa consegue encontrar seu meio-termo ao final, mas, para quem assiste, os questionamentos continuam: para que, para quem e como educar?







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