Quem embarca na leitura de "A eternidade e o desejo" envolve-se em dois amores: um, pela escrita moderna, reflexiva, fluida de Inês Pedrosa; outro, pelo tom argumentativo e convincente do padre Antônio Vieira. Uma das paixões é validada pela eternidade dos sermões do português, que sobrevivem (com atualidade) cinco séculos após sua feitura; a outra paixão vai ao encontro do prazer que a narrativa da escritora nos provoca, tão afeita ao nosso tempo, aos nossos dilemas; paixão pelo desejo, portanto. E como já adiantou Vieira, lá por meados de 1600: "Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras".
A obra de Inês Pedrosa, em um resumo sem compromisso, pode até parecer a trama de um livro paradidático; afinal, o que a protagonista da história (Clara) faz é nos apresentar um autor clássico pelo viés da contemporaneidade. Ao embarcar em uma viagem pela Bahia, a personagem busca entender os seus dilemas pelas palavras do padre - apenas e unicamente por elas, pois, sendo cega, depende exclusivamente do seu som.
Nesta breve introdução sobre o tema do livro já é possível pescar algumas intencionalidades: em primeiro lugar, o nome da protagonista (Clara), tão afim aos preceitos do Conceptismo a que pertenceu Vieira - que pregava uma linguagem clara, sem rodeios (que não fossem os argumentativos). Em segundo lugar, o fato de a personagem não ter a visão se encaixa perfeitamente com o público-alvo do padre, no século XVII: pessoas a quem tinha de convencer por sua oratória, pela força do seu discurso.
Trata-se de uma narrativa extremamente bem planejada, que não só intercala trechos do religioso à história, como também usa elementos das própria retórica do escritor para compor a trama. É um livro, sobretudo, acerca dessa nossa paixão atemporal pela literatura, pelas palavras. Retomando mais uma vez Vieira, “O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”.
A obra de Inês Pedrosa, em um resumo sem compromisso, pode até parecer a trama de um livro paradidático; afinal, o que a protagonista da história (Clara) faz é nos apresentar um autor clássico pelo viés da contemporaneidade. Ao embarcar em uma viagem pela Bahia, a personagem busca entender os seus dilemas pelas palavras do padre - apenas e unicamente por elas, pois, sendo cega, depende exclusivamente do seu som.
Nesta breve introdução sobre o tema do livro já é possível pescar algumas intencionalidades: em primeiro lugar, o nome da protagonista (Clara), tão afim aos preceitos do Conceptismo a que pertenceu Vieira - que pregava uma linguagem clara, sem rodeios (que não fossem os argumentativos). Em segundo lugar, o fato de a personagem não ter a visão se encaixa perfeitamente com o público-alvo do padre, no século XVII: pessoas a quem tinha de convencer por sua oratória, pela força do seu discurso.
Trata-se de uma narrativa extremamente bem planejada, que não só intercala trechos do religioso à história, como também usa elementos das própria retórica do escritor para compor a trama. É um livro, sobretudo, acerca dessa nossa paixão atemporal pela literatura, pelas palavras. Retomando mais uma vez Vieira, “O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”.
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