No primeiro poema do primeiro livro publicado por Drummond, já se anteveem ao menos sete temáticas que serão recorrentes ao longo de toda a sua obra. Com um tom quase poético/premonitório, o "Poema das Sete Faces" pode ser tomado quase como um guia de leitura para as obras do poeta.
O complexo A rosa do povo, no entanto, foge um pouco a essa regra de ouro - mais extenso que boa parte da produção drummondiana, abarca cerca de catorze temas/enfoques/motes. A transição de uma temática a outra geralmente é feita com um poema que engloba os dois motivos, garantindo a coesão e organização do livro.
"A rosa do povo" se inicia com uma discussão metalinguística que engloba alguns dos versos mais antológicos do mineiro: "Chega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma tem / mil faces secretas sob a face neutra"; "As palavras não nascem amarradas, / elas saltam, beijam, se dissolvem".
Em seguida, o eu lírico discute sua posição de gauche, desajustado: "Preso à minha classe e algumas roupas, / vou de branco pela rua cinzenta". Do indivíduo fora de lugar parte-se para uma discussão mais ampla do contexto; afinal, publicado em 1945, o livro é um retrato dos tempos sombrios da Segunda Guerra: "Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos."
De um contexto específico para a discussão do tempo e sua passagem: "Há uma hora triste / que tu não conheces. / [...] / não é a da noite / em que já sem luz / a cabeça cobres / com frio lençol / antecipando outro / mais gelado pano".
E já que se falou de tempo, Drummond aproveita a chance para traçar o seu retorno ao passado, entrando no quinto tema da obra: "Nos áureos tempos / a rua era tanta".
O sexto mote escolhido por Drummond é o que contém os poemas mais difíceis da obra, de cunho enigmático/onírico (como o multipolissêmico "Áporo").
Sétimo tema, a eternidade e o efêmero: "No quarto de hotel / a mala se abre: o tempo / dá-se em fragmentos". Daí, para o amor (ainda que dele possa restar um botão ou um rato).
Depois, Drummond entra com seus poemas longos narrativos, fenomenais (vide "Caso do vestido" e "O elefante").
O décimo mote é um questionamento parecido com o do poema "Resíduo": afinal, o que sobra do tempo que passa? ("Consolo na praia" é um dos poemas da minha vida.)
Novamente o passado ressurge; o eu lírico viaja pela família e pela figura do pai, sempre tão intrigante: "Há muito suspeitei o velho em mim".
Em seguida, na parte mais "do povo" deste livro de cunho político tão acentuado, há uma série de poemas sobre o eu e seus irmãos no mundo; o poema "Visão 1944", com a descrição das atrocidades da guerra, é um exagero de beleza poética.
Penúltimo tema, o fim, a morte: "Que a terra há de comer. / Mas não coma já.". E como o fim ainda não era o desfecho, agora sim surge a última parte do livro: poemas de homenagem a mortos em que possamos mirar, na esperança de um mundo mais justo, em que a rosa do povo de fato floresça.
O complexo A rosa do povo, no entanto, foge um pouco a essa regra de ouro - mais extenso que boa parte da produção drummondiana, abarca cerca de catorze temas/enfoques/motes. A transição de uma temática a outra geralmente é feita com um poema que engloba os dois motivos, garantindo a coesão e organização do livro.
"A rosa do povo" se inicia com uma discussão metalinguística que engloba alguns dos versos mais antológicos do mineiro: "Chega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma tem / mil faces secretas sob a face neutra"; "As palavras não nascem amarradas, / elas saltam, beijam, se dissolvem".
Em seguida, o eu lírico discute sua posição de gauche, desajustado: "Preso à minha classe e algumas roupas, / vou de branco pela rua cinzenta". Do indivíduo fora de lugar parte-se para uma discussão mais ampla do contexto; afinal, publicado em 1945, o livro é um retrato dos tempos sombrios da Segunda Guerra: "Este é tempo de partido, / tempo de homens partidos."
De um contexto específico para a discussão do tempo e sua passagem: "Há uma hora triste / que tu não conheces. / [...] / não é a da noite / em que já sem luz / a cabeça cobres / com frio lençol / antecipando outro / mais gelado pano".
E já que se falou de tempo, Drummond aproveita a chance para traçar o seu retorno ao passado, entrando no quinto tema da obra: "Nos áureos tempos / a rua era tanta".
O sexto mote escolhido por Drummond é o que contém os poemas mais difíceis da obra, de cunho enigmático/onírico (como o multipolissêmico "Áporo").
Sétimo tema, a eternidade e o efêmero: "No quarto de hotel / a mala se abre: o tempo / dá-se em fragmentos". Daí, para o amor (ainda que dele possa restar um botão ou um rato).
Depois, Drummond entra com seus poemas longos narrativos, fenomenais (vide "Caso do vestido" e "O elefante").
O décimo mote é um questionamento parecido com o do poema "Resíduo": afinal, o que sobra do tempo que passa? ("Consolo na praia" é um dos poemas da minha vida.)
Novamente o passado ressurge; o eu lírico viaja pela família e pela figura do pai, sempre tão intrigante: "Há muito suspeitei o velho em mim".
Em seguida, na parte mais "do povo" deste livro de cunho político tão acentuado, há uma série de poemas sobre o eu e seus irmãos no mundo; o poema "Visão 1944", com a descrição das atrocidades da guerra, é um exagero de beleza poética.
Penúltimo tema, o fim, a morte: "Que a terra há de comer. / Mas não coma já.". E como o fim ainda não era o desfecho, agora sim surge a última parte do livro: poemas de homenagem a mortos em que possamos mirar, na esperança de um mundo mais justo, em que a rosa do povo de fato floresça.
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