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A montanha entre nós (filme de 2017)

Com este título e um pôster no qual Idris Elba e Kate Winslet estão de lados opostos, cada um com o olhar virado em uma determinada direção, era de se esperar um filme que discutisse o racismo em um relacionamento amoroso entre uma mulher branca e um homem negro. No entanto, não é isto o que acontece no enredo - o que talvez seja bom.

As cenas de aventura do longa, se não satisfazem aos espectadores mais ansiosos por ação, são suficientes, no entanto, para prender a atenção de quem o assiste. Bem produzidas, contam com uma verossímil queda de avião monomotor e ambientes congelantes que causam uma forte impressão. Em meio a este contexto, com uma dose de aventura bem narrada, se desenvolve o enredo da produção - basicamente, uma história de amor.

A oposição entre os protagonistas (que, logicamente, acabam se apaixonando) é marcada por uma personagem feminina representando a emoção e o masculino, a razão. Bastante estereotipada, essa caracterização ao menos consegue garantir alguns diálogos interessantes no decorrer da trama.

Se a questão da cor da pele não aparece de modo explícito no filme (apenas podemos entrevê-la no título), talvez o objetivo seja justamente criar uma nova cultura de obras românticas, nas quais casais de todas as culturas (e quiçá, de todas as formações possíveis) possam ser vistos na tela do cinema.




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