Há ao menos 4 categorias em que essa obra se encaixa, segundo sua ficha catalográfica, e nem mesmo o conjunto de todas elas é capaz de definir o gênero de "Argonautas". Talvez intencionalmente, a impossibilidade de classificar o livro reflete um de seus temas principais: a categorização impossível dos gêneros sexuais.
Maggie Nelson retrata aspectos de sua própria vida utilizando-se de fontes filosóficas diversas (o que fez surgir uma nova tentativa de designação para este tipo de livro, a "autoteoria"). Um dos principais temas que a guiam é a sua relação com uma mulher biológica, que passa por tratamento hormonal e cirúrgico para redefinir sua aparência. Durante boa parte da leitura, não consegui visualizar a/o parceira/o de Maggie; só ao final do livro vamos tendo acesso às peculiaridades de seu gênero sexual. Nossa falta de possibilidades para definir é compartilhada pela autora, que varia o tratamento dado à sua companhia amorosa ao longo da obra: ora no masculino, ora no feminino, ora no neutro. E, em nenhum dos casos, suficiente para apreender toda a complexidade de um único ser humano em sua relação com o próprio corpo.
O apoio e questionamento de diversas teorias são pesados, profundos, instigadores. Apesar de contar com pouco mais de 150 páginas, é uma obra extremamente densa e intrincada. Talvez como a própria vida da autora que, com pouco mais de 40 anos, conseguiu produzir uma escrita inclassificável.
Potente, a autobiografia/autoteoria vai além de indagar os preconceitos e estereótipos. É uma reflexão no âmago da nossa constituição enquanto seres humanos, que têm de lidar com um corpo com o qual sempre há certo grau de estranhamento e desconforto. Muito sincero, o livro é cativante também ao expor uma certa "intimidade filosófica" - é como um acesso, ainda que limitado, ao que há de mais humano na escritora.
Enfim, como tudo o que não se explica com palavras, é algo que só pode ser totalmente apreendido pela experiência. A única forma de confrontá-lo é pela leitura (paradoxalmente, feita de uma explicação em palavras).
Maggie Nelson retrata aspectos de sua própria vida utilizando-se de fontes filosóficas diversas (o que fez surgir uma nova tentativa de designação para este tipo de livro, a "autoteoria"). Um dos principais temas que a guiam é a sua relação com uma mulher biológica, que passa por tratamento hormonal e cirúrgico para redefinir sua aparência. Durante boa parte da leitura, não consegui visualizar a/o parceira/o de Maggie; só ao final do livro vamos tendo acesso às peculiaridades de seu gênero sexual. Nossa falta de possibilidades para definir é compartilhada pela autora, que varia o tratamento dado à sua companhia amorosa ao longo da obra: ora no masculino, ora no feminino, ora no neutro. E, em nenhum dos casos, suficiente para apreender toda a complexidade de um único ser humano em sua relação com o próprio corpo.
O apoio e questionamento de diversas teorias são pesados, profundos, instigadores. Apesar de contar com pouco mais de 150 páginas, é uma obra extremamente densa e intrincada. Talvez como a própria vida da autora que, com pouco mais de 40 anos, conseguiu produzir uma escrita inclassificável.
Potente, a autobiografia/autoteoria vai além de indagar os preconceitos e estereótipos. É uma reflexão no âmago da nossa constituição enquanto seres humanos, que têm de lidar com um corpo com o qual sempre há certo grau de estranhamento e desconforto. Muito sincero, o livro é cativante também ao expor uma certa "intimidade filosófica" - é como um acesso, ainda que limitado, ao que há de mais humano na escritora.
Enfim, como tudo o que não se explica com palavras, é algo que só pode ser totalmente apreendido pela experiência. A única forma de confrontá-lo é pela leitura (paradoxalmente, feita de uma explicação em palavras).
Comentários
Postar um comentário