O mito grego de Pigmaleão conta a história de um escultor que se apaixona pela própria obra; como em muitos dos contos dos antigos, essa história traz em seu cerne uma questão universalmente humana. Afinal, como não querer modificar o ambiente e as pessoas que nos cercam para reduzi-los à nossa própria semelhança?
"Funny Face" retoma essa ideia ao apresentar um enredo de transformação - tanto que o seu título traduzido é "Cinderela em Paris". A protagonista da obra, interpretada por Audrey Hepburn, é uma vendedora de livros, interessada em filosofia, que aceita ser modelo para poder assistir às palestras de um professor na cidade-luz. Assim, além de submeter-se a uma carreira desconhecida, adquire trejeitos mais elegantes e requintados para obedecer às expectativas da época.
A jogada de cores da produção em technicolor e a fotografia, somadas a inovações na edição do vídeo, fazem com que o longa permaneça moderno - ao menos na parte técnica.
Logicamente, o filme traz vários estereótipos machistas, que permitem moldar a personagem principal de acordo com os interesses de seu par romântico nas telas. Ainda assim, é um retrato interessante de como os Estados Unidos viam a intelectualidade da época. Em plena Guerra Fria, qualquer tentativa de discutir a empatia ou a divisão de bens acaba sendo ridicularizada, como se toda a filosofia fosse uma questão inútil. Mal sabiam os produtores da obra que seu mote era tão essencialmente filosófico... puro Pigmaleão.
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