Ferreira Gullar, homem extremamente conservador em aspectos políticos, mostra-se deslocado ao tentar ser inovador demais como poeta. "Poemas concretos/neoconcretos", uma de suas primeiras publicações, reúne poucos poemas e trabalha mais em uma linha dadaísta (palavras dispostas aleatoriamente na página) do que reinventando significado e significante em uma poesia que fosse verdadeiramente visual.
O livro de estreia de Ana Cristina Cesar é inovador desde a capa, em que aparece a figura ambígua de um útero. Fragmentada e polissêmica é também a poética, em que pululam versos telegráficos, por vezes de compreensão dificílima para o leitor. Não se trata de uma tentativa de hermetismo, pelo contrário; o que causa estranhamento nos poemas é sua simplicidade cortante, com associações inusitadas e bastante diretas. Além disso, os assuntos não se mantêm ao longo dos textos; Ana Cristina salta com naturalidade entre temas complexos e diversos. Apesar de curto, é uma livro de estreia potente, com muitas possibilidades de interpretação - antecipando a grande e breve obra deixada pela autora.
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