Pular para o conteúdo principal

Desayuno en Tiffany's (Truman Capote) + Bonequinha de luxo (filme de 1961)

Criação de Truman Capote, a personagem Holly Golightly, imortalizada no cinema por Audrey Hepburn, é uma das protagonistas mais carismáticas e divertidas da literatura moderna. Um dos elementos constitutivos de seu charme é a irreverência, até hoje marcante - afinal, muitas das atitudes de Holly ainda são consideradas tabu nos tempos que correm.

Nem apenas de uma boa criação vive um autor, contudo; se a novela de Capote alcançou tanta popularidade, grande parte disso se deve ao estilo, absolutamente envolvente. Assim como a protagonista gera a curiosidade e quase a obsessão do narrador, nós também, como leitores, nos vemos envolvidos pela prosa agradável e estimulante da obra.

O volume conta com outros três textos (cuja extensão varia entre o conto e a novela): Una casa de flores, Una guitarra de diamantes e Un recuerdo navideño. Ainda que também sejam bem articulados, talvez apenas o último se destaque tanto quanto a história que intitula a obra.

Sobre o filme, é preciso ressaltar que, mesmo com uma alta qualidade, não supera o texto original - ainda que seja um excelente complemento. Alguns elementos de moralidade, ausentes na novela de Capote, aportam uma ideologia muito datada à película. Assim, além de forjar uma história de amor, também exagera estereótipos, como o do ator europeu que imita sarcasticamente um chinês. Talvez a crítica pareça anacrônica aplicada a um filme dos anos 1960, mas é apenas é uma ressalva sobre como Hollywood não soube acompanhar a modernidade do escritor.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cenas de Abril (Ana Cristina Cesar)

O livro de estreia de Ana Cristina Cesar é inovador desde a capa, em que aparece a figura ambígua de um útero. Fragmentada e polissêmica é também a poética, em que pululam versos telegráficos, por vezes de compreensão dificílima para o leitor. Não se trata de uma tentativa de hermetismo, pelo contrário; o que causa estranhamento nos poemas é sua simplicidade cortante, com associações inusitadas e bastante diretas. Além disso, os assuntos não se mantêm ao longo dos textos; Ana Cristina salta com naturalidade entre temas complexos e diversos. Apesar de curto, é uma livro de estreia potente, com muitas possibilidades de interpretação - antecipando a grande e breve obra deixada pela autora.

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se