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Vidro (filme de 2019)

Fim da trilogia iniciada em 2000, com "Unbreakable", este filme reúne 3 protagonistas com graves transtornos de personalidade e problemas identitários - os outros dois títulos da trilogia, "Split" e "Glass", deixam bem clara esta característica. Trata-se de figuras estilhaçadas, retalhadas pela dor e pelo sofrimento e que, ainda assim, parecem destacar-se como mais resistentes que os demais.

O filme dialoga bastante com o gênero das histórias em quadrinhos, criando uma interpretação interessante para ele. Além do mais, ao reler a função e os arquétipos dos super-heróis, cria um questionamento que vale para grande parte dos filmes de ação que são feitos hoje (sempre com os mesmos conflitos e, no mais das vezes, com desenvolvimento e finais absolutamente previsíveis).

Talvez o melhor da trilogia, é um longa que consegue unir histórias aparentemente desconectadas entre si (no que se refere aos dois filmes iniciais da saga), sem deixar de ser interessante para o espectador desavisado, que assiste a ele sem saber da sequência que o antecedia. Com um final aberto, daqueles que dão pano para manga (e para uma nova produção), é uma obra de ação, certo terror e suspense que consegue ser bem acima da média.


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