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Era uma vez em Hollywood (filme de 2019)

Conheço pouco Tarantino, a ponto de ter me interessado por esse longa em específico mais por sua proposta de resgatar a história do cinema do que pelo estilo do diretor. Além disso, também queria ver mais uma vez o DiCaprio nas telas - um dos atores de que mais gosto de acompanhar a filmografia.

Uma vez que não tinha grandes expectativas, o filme não me decepcionou; no entanto, também pouco me surpreendeu (e, quando o fez, foi mais pela atuação excelente dos protagonistas do que pelo roteiro). Para o público brasileiro, o filme apresenta o agravante de lidar com um contexto muito específico; quem não sabe nada sobre Sharon Tate perde o jogo entre ficção e realidade que é grande charme de toda a trama.


O longa tem problemas com o politicamente correto, mas talvez consiga escapar a um julgamento mais sério por dois motivos: o primeiro é o de ser um filme de época, coerente com os valores defendidos então; o segundo é o fato de brincar com a factualidade dos eventos, criando um mundo paralelo de ficção em que tudo é possível. E, de qualquer forma, quem vai assistir a mais um banho de sangue de Tarantino nas telas provavelmente não se preocupa muito com os valores morais postos em evidência.




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