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O começo da vida - parte 2 (filme de 2020)

Quando falamos em educação, dificilmente pensamos no meio ambiente como algo além de um conteúdo de avaliação ou, no máximo, um item para constar no PPP. Poucos educadores são reconhecidos por verem, nas crianças, uma parte da natureza – que precisa, consequentemente, estar rodeada de terra, água, ar, plantas e animais (e não ficar confinada a uma caixa de cimento repleta de telas).

Nesse contexto, o filme O começo da vida vale mais do que muita palestra sobre pedagogia por aí. Os fatos de que ele trata são poucos (e sempre respaldados por uma visão científica); em suma, a ideia defendida é que o contato com o meio ambiente é uma prerrogativa para um futuro possível. Se as crianças não sobem em árvores, não veem animais na natureza, não sabem de onde vêm os alimentos, não terão por que lutar. Afinal, como exigir delas que preservem um meio ambiente que sequer conhecem?

Além da beleza de reunir tantos discursos e imagens potentes, o documentário ainda tem a força de trazer a voz das crianças à tona. São elas que questionam, a todo momento, a incoerência dos adultos e nos ensinam a importância de saber escutá-las.



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