Pular para o conteúdo principal

Einstein: sua vida, seu universo (Walter Isaacson)

Já tinha obtido um bom panorama da vida de Einstein pela primeira temporada da série Genius. Um dos fatos que mais tinha me impressionado (e de que até então não fazia ideia) foi a relevância de Mileva Maric Einstein como assistente de cálculo do marido. Talvez o obscurantismo a que Mileva foi relegada — além do fato de ter desistido de uma carreira que teria de tudo para ser brilhante — acabou me deixando um pouco avessa à figura do físico alemão.

A biografia de Walter Isaacson me ajudou a conseguir enxergar a genialidade científica e humanitária de Einstein, ainda que repleta de nuances machistas. Por mais que não se trate de um texto isento de críticas, é difícil não se deixar tomar pela reverência que o escritor tem em relação a seu biografado.

Apesar de ser um livro por vezes maçante para quem não é de Exatas, as compilações das máximas de Einstein fazem a leitura se tornar mais leve — mesmo em meio a explicações de cálculos da teoria da relatividade. No entanto, não se trata de uma contextualização profunda dos detalhes matemáticos; Isaacson consegue pinçar o que é fundamental (seja um conceito matemático, seja um paradoxo político). E, quanto mais se aproxima da morte, mais a persona de Einstein vai se aproximando à de um avô fofinho. Assim, saímos da leitura com um enorme carinho por essa brilhante vida que conhecemos. 



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h

Cenas de Abril (Ana Cristina Cesar)

O livro de estreia de Ana Cristina Cesar é inovador desde a capa, em que aparece a figura ambígua de um útero. Fragmentada e polissêmica é também a poética, em que pululam versos telegráficos, por vezes de compreensão dificílima para o leitor. Não se trata de uma tentativa de hermetismo, pelo contrário; o que causa estranhamento nos poemas é sua simplicidade cortante, com associações inusitadas e bastante diretas. Além disso, os assuntos não se mantêm ao longo dos textos; Ana Cristina salta com naturalidade entre temas complexos e diversos. Apesar de curto, é uma livro de estreia potente, com muitas possibilidades de interpretação - antecipando a grande e breve obra deixada pela autora.

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se