Pular para o conteúdo principal

Entendendo a linguística: um guia ilustrado (R. L. Trask & Bill Mayblin)

Facilmente acessível, o livro tem as vantagens e desvantagens de toda visão panorâmica: enquanto facilita a compreensão do todo, também corre o risco de esbarrar na superficialidade ou no recorte enviesado.

No geral, a impressão é que a obra tenta se aproximar mais da Linguística Histórica do que dos outros diversos campos de estudo possíveis (e, ao pesquisar brevemente o currículo de seus dois autores, não foi uma surpresa descobrir que ambos são especialistas na história da língua).

A edição da coleção Um guia ilustrado é uma delícia, e torna uma leitura que já devia ser descompromissada em um verdadeiro passeio pelas páginas. Contudo, originalmente publicada em 2000 (ainda que só traduzida em 2013), a obra traz alguns exemplos infelizes sob a perspectiva de hoje — ora machistas, ora etnocêntricos — que são reforçados pelo projeto gráfico. Além disso, mesmo que haja exemplos da língua portuguesa, boa parte da argumentação parte da análise de sintagmas e estruturas próprias do inglês. Assim, para quem não conhece um pouco mais a fundo a língua original, talvez não consiga ter uma boa apreensão do contexto trabalhado.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h

Cenas de Abril (Ana Cristina Cesar)

O livro de estreia de Ana Cristina Cesar é inovador desde a capa, em que aparece a figura ambígua de um útero. Fragmentada e polissêmica é também a poética, em que pululam versos telegráficos, por vezes de compreensão dificílima para o leitor. Não se trata de uma tentativa de hermetismo, pelo contrário; o que causa estranhamento nos poemas é sua simplicidade cortante, com associações inusitadas e bastante diretas. Além disso, os assuntos não se mantêm ao longo dos textos; Ana Cristina salta com naturalidade entre temas complexos e diversos. Apesar de curto, é uma livro de estreia potente, com muitas possibilidades de interpretação - antecipando a grande e breve obra deixada pela autora.

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se