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Las venas abiertas de América Latina (Eduardo Galeano)

Conheci Galeano na época do Ensino Médio – talvez antes – por uma das raras indicações de livros ofertadas pelo professores da escola. Na época, lembro-me de ter ficado boquiaberta com as informações coletada pelo autor para apresentar o contexto de contínua exploração no qual se insere a América Latina. Desse ponto de vista, talvez tenha sido uma das leituras mais importantes na minha formação política.

Tantos anos depois, a releitura não me trouxe uma obra menor, mas com impacto bem menos acentuado. De certa forma, talvez tenha me habituado à dor histórica latina – como diz Sontag, a repetição das tragédias tira nossa capacidade de senti-las profundamente.

Outro ponto em que senti me desvincular da leitura é sua distância temporal. Na época de publicação de Las venas, Allende ainda era presidente eleito, trazendo um ar de otimismo para a escrita de Galeano. Parecia haver um lugar aonde rumar para corrigir a situação de desmandos históricos. No nosso contexto atual, nem essa parca esperança tem direito a um respiro.

Apesar dessas diferenças que notei em relação à primeira leitura, continua sendo um livro arrebatador. A potência da escrita do uruguaio é um desafio aos limites dos gêneros historiografia e literatura. Além disso, ter passado por muitas das terras que são citadas ao longo da obra me fez ter uma visão muito mais concreta das situações que são relatadas. 







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