Pular para o conteúdo principal

To Kill a Mockingbird (Harper Lee) + HQ To Kill a Mockingbird (Fred Fordham)

Só quatro anos me separam da primeira leitura que fiz desta obra; se, por um lado, as lembranças ainda estavam frescas na memória, por outro não deixei de encontrar vários elementos que passaram despercebidos nesse outrora tão recente. 

Muito das minhas descobertas se deve ao fato de ter, agora, me aventurado pela obra no original em inglês. Ainda que a tradução da Ed. Record seja bastante perspicaz e calcada em ampla pesquisa histórica, deixa de lado um pouco da insolência de Scoutt e da irreverência do próprio narrador.

Outro aspecto externo que só engrandeceu a experiência de leitura foi ter acompanhado o audiobook lido por uma narradora sulista. Seguir um pouco do que seria a sonoridade original da fala de Scoutt só me fez gravar mais fundo algumas das várias passagens marcantes da obra.

Já no que se refere a outros materiais externos complementares à leitura, a HQ de Fred Fordham foi uma decepção. Além do traço duro (o autor é retratista), algumas das passagens mais visuais da narrativa foram simplesmente omitidas. As poucas cenas que fogem do encaixotamento de 9 quadrinhos apertados por página tampouco são dignas de glória.







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h

Cenas de Abril (Ana Cristina Cesar)

O livro de estreia de Ana Cristina Cesar é inovador desde a capa, em que aparece a figura ambígua de um útero. Fragmentada e polissêmica é também a poética, em que pululam versos telegráficos, por vezes de compreensão dificílima para o leitor. Não se trata de uma tentativa de hermetismo, pelo contrário; o que causa estranhamento nos poemas é sua simplicidade cortante, com associações inusitadas e bastante diretas. Além disso, os assuntos não se mantêm ao longo dos textos; Ana Cristina salta com naturalidade entre temas complexos e diversos. Apesar de curto, é uma livro de estreia potente, com muitas possibilidades de interpretação - antecipando a grande e breve obra deixada pela autora.

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se