Uma boneca perdida, uma criança desaparecida, os duplos entre amigas e entre mães e filhas, Leda e Nina: os elementos da mitologia de Ferrante não escapam ao livro A filha perdida. Ademais, considerando que se trata de um romance mais sucinto (menos de 200 páginas), talvez nele essas figuras características da escrita da autora brilhem com ainda mais força, forçando toda a narrativa a girar ao redor dessa constelação de alegorias.
Ainda acredito preferir o livro ao filme, apesar de a adaptação realizada em 2021 ser ótima e caminhar independentemente da obra em que se baseia. Contudo, há alguns elementos que aparecem com mais força com o punho da própria autora, como as reflexões da protagonista sobre seu passado e as relações de poder intrínsecas a uma família.
No filme, não há uma voz de narradora que mimetize a do livro – o que é um acerto, já que lhe confere assim mais autonomia. O que vemos retratado com os dizeres afiados de Ferrante no romance é o que capturamos pelo belo amálgama de cenas e diálogos do longa. Assim, também filme sendo duplo do livro, talvez o ideal seja pensar em uma relação de complementaridade, tal como a que marca os eternos impasses entre Leda e Nina nas obras da italiana.
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