Ao definir o zeitgeist de nosso tempo, Não olhe para cima oscila entre o trágico e o pastelão. E talvez essa linha limítrofe entre opostos seja mesmo o que nos define: a sensação que mais me marcou durante a exibição do longa foi uma espécie de vergonha alheia em que me reconheço. Estamos todos na mesma lama, ainda que não venha (por enquanto) nenhum astro colidir com nosso planeta.
Os reflexos são tão acurados que parecem ter sido feitos à medida da política brasileira; fora o glamour de Maryl Streep, tudo na presidente ficcional remete a Bolsonaro, inclusive o filho maléfico que intitula como assistente de poder.
Gosto de filmes em que o fim do mundo vai além da tentativa de salvá-lo. Outro exemplo que me vem muito forte à lembrança é o Melancolia, de Lars Von Trier, que gera um momento profundo de silêncio após seu final. Mesmo que vá pela linha da comédia, Não olhe para cima também carrega sua melancolia. Afinal, ainda que estejamos fazendo graça, é de nosso fim como espécie que estamos falando.
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