Ler O alienista logo após ter assistido a Não olhe para cima me fez pensar que Machado também se propôs, nesta novela, a realizar um retrato de seu tempo, capturar o zeitgeist da época com todas as suas contradições.
Apesar do intervalo histórico e da temática que as distanciam, as duas obras são resultado do embate entre ciência e crença, racionalidade e subjetividade na interpretação de teorias. Simão Bacamarte, protagonista do livro, é ora um espelho do médico altruísta e preocupado apenas em contribuir para o desenvolvimento da humanidade, ora a caricatura do cientista maluco. E, ao redor dele, a sociedade burguesa também oscila entre a concordância absoluta com as teorias propostas e a rebelião sangrenta contra elas.
Tendo a ciência como seu principal tema, a obra subverte as expectativas do leitor ao não apresentar limites claros entre a genialidade e a alucinação de seu protagonista – tal como as barreiras entre loucura e sanidade são a todo momento revistas ao longo da obra. E tudo isso é salpicado pelos apontamentos certeiros de Machado, que tornam a narrativa ainda mais instigante.
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