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Mostrando postagens de dezembro, 2015

Os miseráveis (adaptação de Luc Lefort)

Nunca tinha visto uma adaptação de um livro pela metade. Luc Lefort reconta a história de Jean Valjean apenas até o ingresso de Cosette no convento e adianta a revelação das últimas páginas da obra de Victor Hugo (de que Fantine é a mãe da menina) apenas para conseguir dar um desfecho ao seu reconto forçado do clássico francês. Não trata-se de uma adaptação, mas de uma outra história, moldada ao bel-prazer de seu autor. Em vez de adaptação, seria mais justo que a capa da obra afirmasse que é apenas livremente inspirada em Les Misérables. Além disso, apesar de ser uma obra voltada a crianças, as ilustrações são medonhas, o que não condiz com o público-alvo.

Os miseráveis - adaptação de Walcyr Carrasco

Apesar de que qualquer tentativa de adaptar "Os miseráveis" acabe caindo na ideia de resumo, uma vez que a obra original é bastante extensa, o reconto de Walcyr Carrasco é interessante. O adaptador/tradutor, ao invés de facilitar a obra para o jovem leitor, prefere trabalhar com glossário ao pé da página, o que é bastante proveitoso para formar leitores mais perspicazes, enriquecendo seu vocabulário e contextualizando o enredo aos poucos. A parte histórica deixou a desejar, já que o foco parece ser mais as relações familiares de Jean Valjean, Cosette e Marius. De qualquer forma, para a pouca extensão da obra, seria difícil um livro sem falhas.

Os miseráveis (Victor Hugo)

É muito difícil não se deixar agradar pela leitura de "Os miseráveis" - nas pouco mais de 1500 páginas do livro, algum trecho deve conseguir cativar o leitor, por mais diverso que seja o público receptor deste romance ao longo dos séculos. São tantos os personagens, situações e contextos descritos no livro que é difícil não sentir empatia por alguma faceta do grande cenário humano desenhado por Victor Hugo. O primeiro que se deve saber, contudo, antes de começar a leitura, é que trata-se de um romance com forte cunho historiográfico. Além de acompanhar as intrigas da vida de Jean Valjean, Javert, Cosette, Fantine, o leitor será informado sobre toda a situação política da França (especialmente em Paris) alguns anos após a Revolução Francesa. Uma vez que o autor escreve aos seus contemporâneos, um pouco de pesquisa histórica antes da leitura ajudará a entender não só o contexto, mas as opiniões políticas do narrador, indispensáveis para compreender o desenrolar da trama.

Magia além das palavras (filme de 2011)

Por se tratar de uma biografia não autorizada, decidi assistir ao filme com uma certa desconfiança, que, felizmente, se mostrou infundada. Claro que, por ser uma obra comercial, tem sim seus exageros narrativos - mas nada que prejudique muito fortemente o conjunto final. A atriz principal, fã da série Harry Potter, além de parecida com J K Rowling, faz uma boa interpretação. De fato, nenhum ator da produção deixou a desejar. Os problemas maiores estão na edição, por vezes muito melodramática (como nas cenas que mostram a mãe de Rowling doente). Por brincar muito com o universo da série, pode servir também como entretenimento para as crianças, apesar de não ser um filme infantil. E, se os pequenos adorarem o mundo de Hogwarts, melhor ainda!

Noivo neurótico, noiva nervosa (filme de 1977)

Ao mesmo tempo que, por um lado e sob certo ponto de vista, se encaixa no gênero comédia romântica, por outro lado quebra boa parte dos padrões correspondentes a esse tipo de produção. "Annie Hall" (cujo título foi erroneamente traduzido, já que os personagens nunca foram noivos) é a história de um casal permeada pelas sacadas irônicas de Woody Allen, mas também marcada por problemas que, de tão pouco glamourosos, dificilmente são discutidos na telona do cinema. O modo como Woody Allen "passeia" por sua narrativa, fazendo interpolações satíricas sobre os personagens ou o ambiente da história, é um dos pontos fortes da obra. Também é possível perceber, assim, que o protagonista (que interpreta o papel de um comediante) não é tão engraçado trabalhando quanto nos apresentando os detalhes de sua confusa vida amorosa. Apesar de divertido, o filme não me agradou tanto quanto algumas outras produções do diretor (talvez porque a protagonista feminina seja bem sem-graça)

Os 33 (filme de 2015)

Este é não apenas um filme baseado em fatos reais, mas também uma obra cujo contrato foi assinado no calor do momento: pelo mesmo cano usado para receber água e comida, os mineiros receberam a proposta de Hollywood (que comprou todos os direitos dessas histórias de vida para sempre). Como se já não bastasse essa apropriação da tragédia, o filme é o típico retrato estadunidense sobre o restante da América: bota o Antonio Banderas, o Rodrigo Santoro e mais alguns atores latinos... para falarem inglês. Por que a preocupação, então, de buscar atores do lado sul da América? Porque eles têm "cara" de latinos?  O filme não só pasteuriza a ideia de latinidade (partindo do pressuposto de que todos são iguais), como reforça o preconceito dos mineiros chilenos em relação ao único boliviano. Ainda que esse preconceito existisse, a produção não o discute criticamente; pelo contrário, o reforça, ajudando a ridicularizar o seu personagem boliviano. O único ponto positivo da obra é mos

Star Wars, o despertar da força (filme de 2015)

Como não assisti aos filmes anteriores da saga, só tenho como julgar a produção de 2015 isoladamente. E justamente o fato de ser compreensível a "leigos" é um dos pontos fortes da trama, que, logicamente, também veio para encantar os seguidores de longa data das histórias, com a participação, após quase 40 anos, dos atores das primeiras obras. A incorporação natural de uma protagonista mulher e de um negro (ou seja, a aceitação da ideia de que mulheres e negros têm plena capacidade de liderança) é sensacional, considerando a repercussão que a narrativa  cinematográfica terá. O trabalho com os cenários é fantástico. Para quem não se impressionar com o enredo (que tem sim sua dose de clichê), a arte da produção não deixa de encantar. Não estou sequer falando de efeitos especiais - apenas os ambientes criados com enorme verossimilhança já são dignos de menção honrosa. Resta ver o que a continuação da saga trará (e podia trazer uma sequência apenas com Chewbacca, o personag

O homem da Terra (filme de 2007)

Imaginem um filme pretensioso, daqueles em que é possível imaginar o diretor pensando "Hum, acho que tive uma grande e original ideia" e o espectador pensando "Só que não". O homem da Terra parte de um pressuposto bastante inverossímil, mas que poderia ter sido bem desenvolvido nas mãos de um bom diretor, até se tornar levemente crível. No entanto, trata-se de uma produção de baixo orçamento, em um só cenário, o que complica o trabalho de cativar o público. Somando a tudo isso um time de atores péssimos, revelações no enredo forçadíssimas (que se parecem às de novelas mexicanas), o filme ganha fácil o prêmio de pior do ano na minha lista. Trata-se de uma obra com viés ateu, mas que usa os mesmos recursos dos filmes religiosos que odeio: a pretensão de que, como dona da verdade, pode fazer uma produção nas coxas. O homem da Terra poderia ter ficado embaixo dela para sempre.

Divergente e Insurgente (filmes de 2014 e 2015)

O pressuposto da distopia adolescente proposta na série não é ruim, pois serve de crítica a nossa conjuntura, em que todos devem cumprir um papel para não serem descartados do sistema. Essa realidade, que dá uma margem limitada de escolha ao jovem ingressante no mercado de trabalho, é metaforicamente bem adaptada para as facções de Divergente. Se o primeiro filme não é de todo ruim (apesar de interpretações rasas e um romance forçado entre os protagonistas), o segundo deixa bastante a desejar. O submundo das facções é retratado sem uma explicação prévia para a existência de outros clãs além dos 5 citados no primeiro filme. Aliás, muitos fatos não convenceram na segunda obra, por irem contra o que tinha sido apregoado no primeiro filme. É como se fosse preciso esticar a saga a qualquer custo, mesmo que isso implicasse passar por cima de qualquer verossimilhança. Vamos ver o que nos aguarda nas sequências.

Habibi (Craig Thompson)

O calhamaço em quadrinhos de Craig Thompson, de mais de 600 páginas, consegue ser facilmente devorado em um só dia, tamanho é o interesse que a história desperta. Para criar essa obra genial, o autor aliou uma trama polêmica e instigante a um traçado delicado, minucioso, de atenção suprema a detalhes. Craig embarca no universo da escrita árabe para compor seus quadros, com formas típicas do mundo islâmico. Sua narrativa, entretanto, não tem lugar e nem tempo definido: transcorre em um país de cultura muçulmana (não especificado), onde elementos do moderno e do arcaico convivem, impossibilitando determinar a datação do enredo. A temática do incesto, sempre incômoda, é abordada de maneira muito delicada (que me lembrou o filme Lavoura Arcaica, baseado na obra de Raduan Nassar). Outros assuntos pesados, como estupro, corrupção de menores, exploração do mais fraco (e pobre) pelo mais forte (e rico) estão igualmente presentes na obra, dosados de maneira a atingir o leitor profun

O discurso "Faça Boa Arte", de Neil Gaiman

O discurso de Neil Gaiman para a turma de formandos da University of Arts, na Filadélfia, entra na linha dos textos memoráveis por ter a coragem de, em uma festa de formatura, avisar aos jovens que a vida só começou. E que, se eles se ferraram na faculdade, vão se estrepar ainda mais depois dela. Somado ao discurso (que é também um vídeo bastante buscado no YouTube) há uma edição cuidadosa, com design interessante e chamativo. Assim, apesar de ser um texto bastante curto, contém alguns conselhos que merecem ser levados a sério. E que valem, inclusive, para quem se formou e entrou para a vida adulta há muito tempo.

A estrela que nunca vai se apagar (Esther Earl)

O livro é uma espécie de homenagem, com cartas, fotos e desenhos de Esther, editado por seus pais após a morte da garota. A história pessoal da menina, afetada pelo câncer de tireoide, serviu como uma das principais inspirações de John Green em sua obra "A culpa é das estrelas". O fato de ser a história real por trás da narrativa do romance de Hazel e Gus explica o sucesso do livro, que, apesar de ser emocionante (é, afinal, o relato dos últimos dias de uma criança com câncer), pouco tem de literário. É uma leitura rápida, que, se não é instigante, é ao menos válida (e talvez funcione bem como paradidático para jovens da idade de Esther).

Deus foi almoçar (Ferréz)

Já havia lido "Capão Pecado", de Ferréz, na época de um boom de literatura marginal (coincidente com o lançamento do filme "Cidade de Deus"). Do meu primeiro contato com o autor, não lembro de guardar más recordações. No entanto, o mesmo não se passou com este livro. O próprio autor declarou que "Deus foi almoçar" é uma obra diferente, muito distinta de tudo o que ele tenha feito antes. Apesar de ser cheia de frases marcantes, o romance, de modo geral, é muito mal escrito. Não se trata de uma crítica à literatura marginal, nem ao modo de se expressar de um personagem que usa linguagem bastante informal. O problema é o livro em si, um dos piores que li (na verdade, depois das 50 primeiras páginas, apenas passei o olho pelas restantes). O protagonista não vê sentido na própria vida e fica entediando o leitor com seu chororô pelo casamento perdido e descrições quilométricas do seu potente órgão sexual. É chato, é repetitivo, é entediante. E é inverossímil

Armandinho 6 (Alexandre Beck)

Ainda que as tirinhas do personagem Armandinho sejam sempre muito boas, neste livro há uma série de tiras mais contextualizadas sobre o lançamento dos livros do autor em algumas cidades do Brasil, que às vezes têm um certo tom de piada interna.  No entanto, em sua maioria, são ótimas sacadas de um personagem astuto, irônico e consciente de sua cidadania.

A vida privada das árvores (Alejandro Zambra)

Quem já leu Bonsai, do mesmo autor, identificará algumas temáticas bastante semelhantes em "A vida privada das árvores": novamente, Zambra volta ao mundo vegetal para criar suas metáforas, que comparam a difícil poda das árvores com o trabalho de secar a escrita, limando seus excessos. Outra vez assistimos a cenas de um casal melancólico, narradas pelo ponto de vista do protagonista masculino. Contudo, há um tom ligeiramente mais esperançoso nessa história, ainda que a vida dos personagens seja também insistentemente questionada em relação à sua falta de sentido. Uma obra de poucas páginas, mas de escrita intensa, como é a marca registrada do autor.

Antes da liberdade (Julia Alvarez)

A capa e a sinopse do livro geram um pouco de desconfiança, por associarem diretamente a ideia de Estados Unidos à liberdade, felicidade etc. No entanto, ao ler a obra essa percepção equivocada se desfaz: ainda que o Tio Sam ofereça às famílias porto-riquenhas uma situação de relativa segurança, isso não diminui o apreço dos personagens pela terra natal, ainda que esta seja permeada de problemas. Não trata-se de uma grande obra literária, mas é muito interessante do ponto vista histórico, ao retratar a época da ditadura (3o anos sob o jugo do violento Trujillo) em Porto Rico. Como a narração é feita por uma menina de 12 anos, presta-se muito bem à exploração didática em sala de aula. O relato tem um toque de Anne Frank, com trechos do diário de Anita (e talvez o nome escolhido para a protagonista não seja só uma coincidência). Apesar de não ser um discurso real, é uma história feita com base em várias falas de sobreviventes da tragédia da ditadura porto-riquenha. E, por isso, é

A Bela e a Adormecida (Neil Gaiman)

A edição da Rocco ficou tão, mas tão caprichada que dá até dó de começar a folhear o livro. No entanto, é só abrir as primeiras páginas, lindamente ilustradas por Chris Riddel, que queremos ir até o fim, ver tudo o que esta obra tem para nos revelar. Neil Gaiman faz uma releitura dos contos da Branca de Neve e da Bela Adormecida, apesar de essa intertextualidade não ser escancarada. É como se o autor criasse o seu próprio mundo mítico, respaldado em um imaginário comum dos contos da infância. Sua versão da história tem um viés feminista louvável, sem ser doutrinário e sem deixar que a tese central tire o brilho do enredo. É muito comum ouvirmos discursos contra as releituras feministas dos contos de fadas, apoiados na ideia de que "eu cresci brincando de Barbie e nunca tive problemas"... No entanto, em contraposição a essa fala temos a realidade: mulheres estupradas e espancadas todos os dias, passadas de mão no metrô, assovios na rua, e histórias para as meninas

Pé na estrada (Jack Kerouac)

Se, por um lado, a temática do livro tinha tudo para me agradar (já que adoro relatos de viagens), por outro, alguns aspectos do modo de vida dos personagens principais não são exatamente parte da minha filosofia existencial (excesso de drogas, falta de planejamento nos roteiros, furtos, assaltos...). No entanto, apesar de, quase sempre, odiar protagonistas que não têm objetivos ou metas na vida (como Holden Caulfield, de "O apanhador no campo de centeio"), é difícil não se deixar levar pelas traquinagens de Sal Paradise e Dean Moriarty. Ainda que eles roubem (inclusive carros), vagabundeiem, sejam por vezes agressivos ou deprimentes, são personagens que trazem um novo olhar para a realidade. Se a vida dos protagonistas é aparentemente sem lógica, não conseguimos sair da leitura sem refletir o quanto o nosso cotidiano também tem a sua dose de frustração e falta de sentido. O narrador, que vive em função do agora, oscilando entre namoradas, paisagens e empregos, ao men

Adeus, Lênin (filme de 2003)

Esta é uma indicação clássica de filme quando vai se estudar o período do pós-Guerra Fria, recomendação quase unânime de professores de História e Geografia. Assim, de tanto já ter ouvido falar da obra, seu enredo não foi uma surpresa para mim - ainda que, de fato, seja uma trama muito bem construída. A narrativa gira em torno de um rapaz que, após ver a mãe socialista voltar do coma (alguns meses após a queda do muro de Berlim), decide esconder a verdade dela, a fim de não abalar sua saúde frágil. Alex, o protagonista, concentra seus esforços em maquiar a realidade capitalista aos olhos de sua parente enferma. O filme traça críticas a ambos os sistemas, mostrando, de forma madura, os defeitos tanto do consumismo exagerado quanto da falta de liberdade de escolha. De um lado ou de outro do muro, o que há são humanos com suas vidas limitadas e cheias de defeitos, tentando adaptar-se continuamente aos novos panoramas que lhes são impostos. Sensibilidade no retrato das re

Mommie dearest (filme de 1981)

Não sabia nada do contexto deste filme quando comecei a assisti-lo, e, apesar de não ter atrapalhado a compreensão, conhecer a história real por trás da narrativa pode agregar mais valor à obra (e também ajuda a perceber o real significado de seu final enigmático). O longa é uma adaptação do livro homônimo de Christina Crawford, uma das 5 crianças adotadas pela atriz Joan Crawford, grande ícone do cinema dos anos 30. Na obra, Christina conta como era abusada pela mãe (por meio de castigos físicos e tortura psicológica), que era alcoólatra e irritadiça. Muito criticado na época em que foi lançado, o filme não é ruim - e boa parte de sua má reputação talvez se deva ao retrato nada positivo que faz de um dos grandes nomes de Hollywood. No entanto, há sim um certo exagero na atuação de Faye Dunaway (a intérprete de Joan), que por vezes mais parece uma vilã de novela mexicana ou de filme de Hitchcok. Apesar de tudo, é uma obra que prende muito a atenção, com fotografia bem

A vaca voadora (Edy Lima)

Este é um livro infantojuvenil sem lição de moral, sem apelo ao excesso do politicamente correto, sem medo de ser feliz. É uma história absurda, exagerada, que nos leva ao riso e ao prazer mais genuíno pela leitura. No entanto, não trata-se de puro entretenimento: a linguagem da autora é usada com cuidado, criando jogos de palavras e figuras de pensamento interessantíssimas.  Em suma, é uma obra que quem é professor já imagina como leitura paradidática ideal, ainda que em nenhum momento o livrinho tenha a pretensão de explicar nada. É quase uma obra surrealista para crianças, de alto valor, agregado a altas doses de risadas.

A pior hora do dia (Yolanda Reyes)

Conta uma história que causa identificação imediata com o público infantil: uma criança que enrola para fazer a tarefa de casa e termina com medo de ir à escola por não ter o dever pronto. Prende a atenção e é muito bem ilustrado.

Dorme, menino, dorme (Laura Herrera)

Trata-se de uma narrativa bastante simples, centrada nas perguntas de uma criança que tem medo de dormir. O final é bem interessante, com uma boa junção de todos os elementos que formaram a história. As ilustrações, ambientadas no sul do Chile, dão um ar especial para a trama.

Tatu-balão (Sônia Barros)

Cada dupla de páginas traz uma quadrinha poética, que na sequência contam a história da amizade entre um menino e um tatu. Narrativa interessante em um livro bem ilustrado.

Os flagelados do vento leste (Manuel Lopes)

Quando se começa a leitura dessa obra, é difícil não traçar comparações com Vidas Secas, de Graciliano Ramos - ambos os livros trazem em comum as temáticas da seca, da fome, do homem animalizado, da injustiça social. Manuel Lopes, cabo-verdiano, não nega a influência do escritor brasileiro; no entanto, sua obra vai muito além da inspiração graciliana, e compõe um cenário intenso e único. Ao contrário de Vidas Secas, em que os protagonistas animalizados não conseguem captar nossa empatia, os flagelados de Lopes, apesar de seus problemas de comunicação e de certa brutalidade, nos cativam de forma profunda. Assim, torna-se muito mais triste ver suas esperanças desmanchadas, sua fome absurda, seus problemas sem solução. O livro se inicia trazendo cenas alegres, com a chegada de um temporal intenso, que traz esperança a todos os viventes da região retratada da ilha. Ao ver o modo como eles lidam com a chuva (que também traz estragos), sempre perseverantes, é desolador assistir a

The fault in our stars (John Green)

Como já havia assistido ao filme, decidi tentar fazer a leitura do livro no original (e, assim, esperava não ter dificuldades para entender o desenrolar da trama). No entanto, ainda que não tenha muita experiência de ler em inglês, a obra não só foi fácil de acompanhar, mas foi também empolgante. O modo como John Green escreve (na voz de Hazel, narradora) é muito cativante e envolve o leitor completamente em poucas páginas. Trata-se de uma obra para adolescentes, do gênero Young Adults, com alguns clichês típicos do gênero. Entretanto, ainda que não seja o grande clássico da literatura universal, não é um livro ruim. E, se bem trabalhado com o público-alvo, pode ser um ótimo pretexto para em uma sala de aula, por exemplo, o professor abordar temas complexos como morte, doença, abandono, desespero... O livro é ainda mais desesperador que o filme, pois não se preocupa em maquiar a realidade de um doente: o personagem vomita, fica coberto por suas próprias fezes, perde o bom h

Peanuts 1950-1952 (Schulz)

Este primeiro livro da edição completa de Peanuts pode não agradar a muitos, inclusive àqueles que se dizem fãs do Snoopy e sua turma. As primeiras tiras desenhadas por Schulz dizem respeito ao contexto cultural dos anos 50, e não tinham ainda (em sua maioria) a característica da atemporalidade (ou seja, não têm a mesma graça hoje que tinham há 60 anos). Ainda assim, já é possível identificar alguns traços que ajudaram a tornar esses personagens revolucionários no gênero quadrinhos e na mentalidade da época. Além disso, para quem se interessa pela genealogia das histórias, é muito interessante ver os personagens nascendo - Schroeder bebê, Linus ainda sem seu cobertor... Ao final, há uma breve biografia e uma entrevista com Schulz, que ajudam a entender toda a potencialidade de seus quadrinhos. A edição brasileira é muito bem cuidada, ainda que seja uma pena não ter a jacket da edição estadunidense.